Um dos resultados do acordo é a busca conjunta por um novo teste para diagnóstico sorológico da infecção por zika vírus
(Jornal da USP, 02/12/2016 – acesse no site de origem)
O Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e o Instituto Butantan oficializaram protocolo de intenções para impulsionar pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de vacinas, fármacos e testes para diagnósticos dos vírus zika e da dengue. O objetivo é intensificar intercâmbios científicos entre as instituições.
Um dos resultados deste acordo é o trabalho conjunto para o desenvolvimento de um novo teste para diagnóstico sorológico da infecção por zika vírus, que poderá ser usado para diagnosticar pessoas que foram infectadas no passado e que já tenham eliminado o vírus do seu organismo. Embora existam outros meios de diagnóstico, o que vem sendo utilizado na rede pública e privada de saúde é limitado, por detectar a doença apenas em estágios iniciais.
O novo teste, desenvolvido integralmente com tecnologia nacional, deverá auxiliar no atendimento a gestantes e a recém-nascidos, assim como outras pessoas com suspeita de infecção. Segundo Luis Carlos de Souza Ferreira, vice-diretor e coordenador do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas (LDV) do ICB, será possível avaliar retrospectivamente a epidemia de zika vírus no País, assim como buscar possíveis correlações com os casos de microcefalia e alterações congênitas em crianças de mães infectadas.
Ferreira explica que historicamente sempre existiu uma colaboração intelectual e científica entre os pesquisadores das duas instituições, como foi o caso de pesquisas para o desenvolvimento da vacina contra o vírus da zika. O cultivo, a purificação, a inativação do vírus e os ensaios que permitirão medir a segurança e a eficácia da vacina em condições experimentais estão sendo conduzidos pelo Laboratório de Virologia Molecular, sob coordenação do professor Edison Durigon.
Já a produção de antígenos em larga escala está sendo desenvolvida no Butantan, sob a coordenação de Viviane Gonçalves. A vacina do zika passará por pré-testes e ensaios clínicos. Com os dados de segurança e eficácia reunidos, ela passará a ser produzida em escala industrial, afirma Paulo Lee Ho, diretor do Laboratório Especial de Inovação e Desenvolvimento Industrial do Butantan.
Perguntado sobre o prazo para finalizar os testes e ensaios para a vacina chegar à população, Lee Ho explica que é difícil prever porque todos estes procedimentos são complexos e dependem de um grande número de variáveis. “Se não houver um certo número de casos de infecção por zika, será difícil avaliar a eficácia da vacina”, exemplifica.
Na terceira fase dos ensaios em pessoas, os pesquisadores precisam avaliar a chamada reatividade cruzada com outros vírus da mesma família, como o da dengue, que têm estrutura semelhante ao zika. A reatividade cruzada pode ser definida com a resposta do sistema de defesa da pessoa contra uma substância quando ela já foi sensibilizada com outra de estrutura similar. Como essa resposta cruzada é mais fraca do que a direta, ou seja, insuficiente para controlar a infecção, vacinar uma população contra apenas uma das doenças poderia diminuir sua imunidade contra as outras, resultando em casos mais graves.
Laboratório de triagem de droga
As duas instituições também buscam estender a parceria científica na busca de novos fármacos contra doenças infecciosas. Já está em fase final de negociação a montagem de uma plataforma tecnológica voltada para o rastreamento de drogas com potencial terapêutico. A parceria será feita de forma inédita entre os dois institutos e consistirá na instalação de um laboratório no Departamento de Microbiologia da USP, sob a supervisão de Lucio Freitas Junior, pesquisador do Butantan.
Freitas trará para a USP todo o know-how adquirido no período em que passou coordenando uma equipe de pesquisadores no Institut Pasteur Korea, na Coreia do Sul, entre os anos de 2005 e 2013. No laboratório asiático, esteve envolvido com diversos trabalhos para descoberta de medicamentos para tratamento de doenças como a leishmaniose visceral, doença de Chagas, tripanossomíase humana africana, malária, dengue e chikungunya. Por causa da vasta experiência, Freitas foi contratado recentemente pelo Butantan para trabalhar com doenças que necessitam de ações emergenciais, como as provocadas por vírus da zika e a chikungunya.
No Institut Pasteur Korea, Freitas teve reconhecimento como cientista pelo seu conhecimento e alto grau de rendimento produtivo. “Fui muito bem remunerado, mas é no Brasil que encontro desafios para desenvolver meu trabalho porque as epidemias acontecem por aqui”, explica Freitas sobre o motivo que o levou a voltar ao País.
Tanto a reforma quanto a aquisição e a instalação de equipamentos do novo laboratório, bem como a vinculação dos pesquisadores e de estudantes que trabalharão no setor, ficarão a cargo do Butantan. Uma vez implantado o laboratório, as duas instituições compartilharão expertise e competências. A meta será a descoberta de medicamentos para tratamento de doenças como a zika, a malária e a leishmaniose.
O Instituto Butantan é um dos principais produtores de vacinas e soros no País e conta com diversos grupos de pesquisa na área biomédica. O Instituto de Ciências Biomédicas é um centro de excelência em pesquisa na USP e se destaca por trabalhos de ponta nas áreas de imunologia, farmacologia, microbiologia, parasitologia e fisiologia, dentre outras.
A formalização da parceira ocorreu no último mês de outubro, com assinatura de documento pelo reitor da USP, Marco Antonio Zago, e pelo secretário de Saúde do Estado de São Paulo, David Uip.
Ivanir Ferreira