A ex-presidente Dilma Rousseff considerou a chacina de Campinas (SP), onde um homem de 46 anos matou 12 pessoas, entre elas o filho e a ex-mulher, como mais um “exemplo” de feminicídio– violência contra a mulher por razões de gênero.
“A misoginia [ódio, desprezo por mulheres] mata todos os dias. Matou Isamara Filier, uma criança, outras oito mulheres e três homens. É intolerável que o machismo encontre eco no pensamento conservador e justifique o feminicídio”, publicou em seu perfil no Facebook.
Em uma carta enviada para amigos antes de cometer os assassinatos, o técnico de laboratório Sidnei Ramis Araújo fez críticas à ex-mulher e a acusou de tê-lo afastado do filho. No documento, o atirador critica também o que ele considera um “sistema feminista”, que determinou as regras para o relacionamento entre pai e filho.
“Morto tbm já estou, pq não posso ficar contigo, ver vc crescer, desfrutar a vida contigo por causa de um sistema feminista e umas loucas. (…) Eu morro por justiça, dignidade, honra e pelo meu direito de ser pai! A vadia foi ardilosa e inspirou outras vadias a fazer o mesmo com os filhos, agora os pais quem irão se inspirar e acabar com as famílias das vadias. As mulheres sim tem medo de morrer com pouca idade”, escreveu.
Em sua carta, Sidnei chegou ainda a afirmar que não era machista. “Filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres (essas de boa índole, eu amo de coração, tanto é que me apaixonei por uma mulher maravilhosa, a Kátia) tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha! [em referência à Lei Maria da Penha] (…) Sei que me achava um frouxo em não dar uns tapas na cara dela, más eu não podia te dizer as minhas pretensões em acabar com ela! Tinha que ser no momento certo.”
Diante do crime, Dilma considera que o momento é de fortalecer a política de direitos humanos com o objetivo de defender as mulheres de toda a cultura de violência e ódio contra elas. “Devemos defender com firmeza a Lei Maria da Penha e fazer valer a Lei do Feminicídio para que a impunidade não seja mais escusa para novas mortes”, concluiu.
Em março de 2015, a então presidente sancionou a Lei nº 13.104 que inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos.
Na prática, a classificação como “crime hediondo” impede que os acusados sejam libertados após pagamento de fiança. Além disso, determina que a morte de mulheres por motivos de gênero é um agravante do homicídio e prevê o aumento das penas, que poderão variar de 12 a 30 anos.
Chacina de Campinas
Faltando poucos minutos para a meia-noite de domingo (1º), Sidnei pulou o muro da casa em que a ex-mulher, Isamara Filier, 41, e o filho, João Victor Filier de Araújo, 8 anos, festejavam em família a virada de ano e começou a atirar. Ao todo, 12 pessoas foram mortas e três vítimas baleadas se encontram em hospitais da região.
A polícia foi chamada após um dos sobreviventes, de 17 anos, ter conseguido se esconder no banheiro. Em seu depoimento, o jovem disse que achou que os disparos fossem fogos de artifícios. Ao perceber que se tratavam de tiros, correu para um banheiro da casa e se trancou no local. Um outro sobrevivente também conseguiu fugir do atirador ao se esconder no banheiro.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o atirador portava uma pistola 9mm, com cartucho reserva. Além disso, artefatos que aparentavam ser explosivos foram encontrados com ele.
Os corpos do atirador e das vítimas foram enterrados na manhã desta segunda-feira (2).