Chacina em Campinas foi provocada pela misoginia
Na madrugada da virada do ano de 2017, Sidnei Araújo invadiu uma casa em Campinas, interior de São Paulo, onde acontecia uma festa de réveillon. Matou a ex-esposa, o filho e mais dez pessoas, entre membros da família, amigas e amigos. O assassino se matou e deixou uma carta amplamente divulgada pela grande imprensa. No documento ele atribuía à ex-esposa, Isamara Fillier, a culpa da violência brutal que cometeu.
As mulheres de todo o mundo ecoam suas vozes dizendo “Nem uma a menos, vivas nos queremos” porque queremos erradicar o machismo, a misoginia e queremos viver livres de violência. Conhecemos a violência patriarcal porque vivemos cotidianamente suas manifestações. Nossas lutas contra tal violência nos mostram que ela está entranhada nas práticas sociais, nas instituições, nas mentes. Convivemos permanentemente com a negligência das instituições e das pessoas em geral porque naturalizam a violência, porque as mulheres estão sempre sob desconfiança. Até mesmo em casos hediondos, como na chacina de Campinas, a primeira tendência é buscar os supostos erros das mulheres. Estamos sempre em vias de sermos acusadas ou transformadas de vítimas em culpadas.
É com essa compreensão que nós da Marcha Mundial das Mulheres manifestamos nossa indignação em relação a chacina cometida em Campinas. Foi um crime premeditado, planejado, que utilizou de vários artefatos. Portanto, um criminoso que anunciou a uma ou mais pessoas que cometeria o crime, sem nenhum impedimento ou constrangimento para dar seguimento a seu plano. O assassino expressou na carta seu ódio às mulheres, ao feminismo e às leis que o impediam de subjugar sua ex-esposa.
O fato de que ela teve que recorrer a todos os mecanismos legais contra ele, denunciando abuso sexual do filho, pedindo e conseguindo medidas judiciais de proteção em relação aos dois é uma demonstração inquestionável da violência e de que a reação brutal dele se deu em função de não ter a posse dela e do filho.
Nesse momento em que expressamos nossa solidariedade aos familiares, amigas e amigos das vítimas, queremos também declarar nosso repúdio à banalização da violência contra a mulher. Reiteramos que essa escalada conservadora, que se expressa no aumento da violência em geral, e em particular no feminicídio, está diretamente ligada aos enfrentamentos que travamos ao patriarcado. Por isso reafirmamos nossa luta para que os governos avancem em políticas de combate à violência machista, da implantação de um projeto de educação não sexista, impedindo que continue o desmonte em curso de várias políticas.
É fundamental a apuração total desse crime e que o conjunto da sociedade, dos governos, dos meios de comunicação, dos movimentos sociais se comprometam com erradicação da violência. Nós mulheres seguiremos em marcha contra todas as formas de opressão e violência. A reação patriarcal não nos deterá e só fará que juntemos mais força e mais mulheres nessa marcha.
Basta de cumplicidade, basta de omissão!!! Não há desculpas que justifiquem a violência.
Marcha Mundial das Mulheres
03 de janeiro de 2017