A primeira viagem do vagão exclusivo para mulheres no metrô do Recife, realizada na tarde desta segunda-feira (16), foi bem avaliada pelas passageiras, mas também há uma preocupação entre elas de que a medida facilite a ação de assaltantes. Adotado devido a pedidos recebidos pela ouvidoria da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o ‘vagão rosa’ está em fase de testes e fica disponível nos horários de pico: das 6h às 8h30 e das 16h30 às 19h30.
(G1-PE, 16/01/2017 – Acesse o site de origem)
“Essa foi uma opção ótima, porque vou me sentir mais segura. Nos outros vagões, o empurra-empurra é grande. Essa opção tem que durar aqui no metrô”, comenta a operadora de caixa Eunice Temóteo, que utiliza o meio de transporte junto com a filha, Alice, sempre que precisa ir ao Centro do Recife.
A operadora de caixa Eunice Temóteo e a filha Alice aprovam a implementação do vagão feminino no metrô do Recife (Foto: Marina Meireles/G1)
A técnica em enfermagem Conceição Maciel também aprovou a implantação da medida. “Estou me sentindo muito segura. Tenho parentes no Rio e elas falam que o vagão feminino é uma coisa muito boa lá”, ressalta.
De acordo com o superintendente do metrô do Recife, Leonardo Villar Beltrão, o ‘vagão rosa’ também foi uma ideia sugerida pelo Ministro das Cidades Bruno Araújo, que visitou a sede da CBTU em outubro do ano passado. “Essa sugestão veio através do Ministério das Cidades, já que outras cidades já adotaram e a medida deu certo. Decidimos adotar no Recife para avaliar a repercussão dos passageiros é positiva também”, explica.
Operação do vagão exclusivo para mulheres no metrô do Recife teve início nesta segunda (16) (Foto: Marina Meireles/G1)
Durante as paradas nas estações, o vagão, com capacidade para até 200 mulheres, contou com cinco seguranças para impedir a entrada de homens, sendo quatro em cada uma das entradas e um na divisória do vagão misto. “No futuro, nossa ideia é poder culturalizar o vagão feminino para que não haja a necessidade de barrar a entrada de homens”, destaca o superintendente.
Segundo ele, os testes devem durar 15 dias, mas, diante da receptividade das passageiras, há chance de o sistema ser mantido. “A experiência foi muito bem-sucedida na viagem e a gente espera implementar no restante da frota”, explica.
Opiniões divididas
Mesmo que em menor número, passageiras como a cake designer Genilda Fragoso acreditam que o ‘vagão rosa’ pode tornar as mulheres vulneráveis. “Hoje tem seguranças no vagão, mas ninguém garante a presença deles em outros dias. Como é um vagão só de mulheres, isso pode chamar a atenção de assaltantes”, observa.
Para Maria Dolores Fastoso, integrante da coordenação do Fórum de Mulheres de Pernambuco, a medida apenas segrega as mulheres e não tem eficácia. “Isso já foi feito no Rio de Janeiro e não demonstrou resultados. A gente não precisa de exclusividade no metrô, a gente quer transitar com segurança em todos os espaços púbicos e esse vagão não vai mudar absolutamente nada”, frisa.
Seguranças impedem a entrada de homens no ‘vagão rosa’ do metrô do Recife (Foto: Marina Meireles/G1)
A opinião é compartilhada pela secretária da Mulher do Recife, Cida Pedrosa. Para ela, a medida pode até satisfazer num primeiro momento, mas não resolve o problema a longo prazo. “O ‘vagão rosa’ reforça a lógica de prender a vítima ao invés de prender o agressor, o que é errado e não resolve o problema. O direito da mulher é estar onde ela quiser estar”, comenta.
Segundo a secretária, a implantação de câmeras nos vagões é uma das medidas que seriam mais eficazes do que o vagão feminino. “Também é importante dar credibilidade à mulher quando ela for denunciar. Muitas vezes, elas são ridicularizadas”, lamenta.
O G1 também procurou a Secretaria da Mulher de Pernambuco para repercutir o vagão exclusivo para mulheres no metrô do Recife, mas não obteve resposta à solicitação.