Barreira placentária
(Diário da Saúde, 15/02/2017 – acesse no site de origem)
Cientistas descobriram um detalhe essencial por trás da capacidade única do vírus zika para atravessar a barreira placentária e expor o feto a uma variedade de problemas, que muitas vezes vão além da microcefalia, incluindo lesões oculares e auditivas e até mesmo outros tipos de danos cerebrais.
Algo que vem intrigando a comunidade médica desde que a crise de zika começou há cerca de dois anos no Brasil é como o vírus zika atravessa a barreira placentária, enquanto outros vírus intimamente relacionados, da mesma família dos flavivírus, incluindo dengue e vírus do Nilo Ocidental, não conseguem fazer isto.
E os obstáculos para atingir o cérebro do feto são substanciais – um vírus precisa migrar do sangue da mãe para o sangue do feto, sendo que ambos são separados por células projetadas justamente para evitar essa ocorrência.
Molécula AXL
Isto ocorre por que o vírus zika aparentemente aprendeu a explorar uma “passagem secreta”, uma molécula da superfície celular conhecida como AXL.
Partindo de células endoteliais umbilicais humanas, doadas por quatro voluntários do estudo, os pesquisadores constataram que elas eram muito mais susceptíveis à infecção por zika do que por outros vírus similares, com contagens virais de cem a mil vezes maiores do que no caso da infecção pelos vírus do Nilo Ocidental ou da dengue.
“A função fisiológica da AXL é extinguir reações imunológicas ativadas, incluindo a resposta antiviral ao interferon. Usando a AXL, o vírus zika pega dois pássaros com uma pedra só: ele entra nas células e também ganha um ambiente favorável para a sua replicação dentro das células,” detalham Hyeryun Choe e Audrey Richard, do Instituto de Pesquisas Scripps (EUA).
Células endoteliais fetais
O vírus zika usa a função interna da molécula AXL para “escorregar” por um dos principais tipos de células da barreira placentária: as células endoteliais fetais, que são a porta de acesso à circulação fetal.
“Nós ainda não compreendemos por que o vírus zika usa a AXL e os outros vírus não,” acrescentou Choe. “A crença comum [entre os cientistas] é que todos os flavivírus têm estruturas semelhantes, mas os nossos resultados sugerem que o vírus zika pode ter uma estrutura populacional média diferente dos outros, o que tem implicações científicas e clínicas significativas”.
O estudo foi publicado na revista Proceedings da National Academy of Sciences.