Alunos denunciam professores da FGV por declarações racistas e machistas

16 de março, 2017

Diretório estudantil disse ter informado à coordenadoria sobre denúncias. Fundação diz rechaçar ‘discriminação e preconceito’ e que desconhece postagens de alunos.

(G1/SP, 16/03/2017 – acesse no site de origem)

Alunos denunciam racismo e machismo na FGV (Foto: Reprodução/Facebook)

Alunos denunciam racismo e machismo na FGV (Foto: Reprodução/Facebook)

Alunos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) denunciaram professores de economia e administração por declarações racistas e machistas durante as aulas. Segundo o Diretório Acadêmico, uma comissão de ética da coordenadoria da faculdade foi aberta para apurar as denúncias e definir punição para os docentes.

Em um grupo do Facebook exclusivo para alunos da FGV, uma aluna relatou que um professor declarou que “mulher só faz o trabalho quando enche ela de porrada. Não tem que tratar mulher com beijo e mimimi! Tem que tratar com tapa, tem que mostrar que quem manda é o homem”. O texto, postado em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, termina com a aluna dizendo que as palavras foram “proferidas a risos por um professor da EAESP [Escola de Administração de Empresas] Feliz Dia das Mulheres!”

Alunos da FGV denunciam racismo na universidade (Foto: Reprodução/Facebook)Alunos da FGV denunciam racismo na universidade (Foto: Reprodução/Facebook)

Alunos da FGV denunciam racismo na universidade (Foto: Reprodução/Facebook)

Na sequência, outra aluna comenta que a GV “teve expressões assim” desde a época em que ela estudava na universidade, em 2009. Ela comemora a exposição de situações semelhantes para que os casos sejam apurados.

“Parabéns ao DA [diretório acadêmico] e aos coletivos por abrirem espaço para exposição, expressão e cobrarem as medidas cabíveis. Isso é que faz a diferença. Na minha época, quando houve caso semelhante, tudo o que me ofereceram foi ‘trocar de sala’ para não ouvir mais os comentários. Anos depois, o próprio me procurou espontaneamente para pedir desculpas por ter sido ‘muito rígido comigo'”. O comentário é acompanhado por alunos indignados chamando o ocorrido de “nojento”.

Por meio de nota, a FGV disse desconhecer as postagens com denúncias de alunos, mas que “rechaça qualquer tipo de discriminação ou preconceito”. A instituição informou, ainda, que “em nenhum momento foram formalizados [pedidos para apurar denúncias], oficialmente, perante a direção da instituição”. “Por outro lado, a opinião pessoal divulgada em redes sociais, através de canais particulares, é de exclusiva responsabilidade de seus autores, não podendo ser atribuída à FGV”, declara a instituição na nota.

Uma outra jovem diz que um professor se referiu a uma aluna como “moreninha” e, depois chamou uma de “feminista no bom sentido”. “Ele ainda estava tentando explicar como que dava para usar bebida em atenuante em um caso de estupro, mas é claro ‘olha onde ela estava fazendo sexo” palavras do mesmo também” e menciona o nome do professor.

Diretório estudantil aciona coordenadoria

O Diretório Acadêmico Getulio Vargas (DAGV) afirmou que tomou uma posição “enérgica” frente à gravidade dos fatos. Além dos casos envolvendo os professores, o DAGV menciona a participação de alunos em ocorrências de assédio sexual, homofobia e racismo.

No trote estudantil, ocorrido em 21 de fevereiro deste ano, um aluno da Fundação assediou sexualmente algumas mulheres, segundo o diretório. Em outro caso, enquanto duas mulheres se beijavam, “houve relatos de conduta homofóbica e agressiva”, dizem os alunos. O DAGV também recebeu uma denúncia de racismo em meio a um jogo do campeonato Interbixos.

Os relatos chegaram por meio de canais da ouvidoria e foram investigados pelo diretório. “A presença de variados grupos minoritários dentro da gestão do DAGV foi um importante potencializador das denúncias recebidas, fazendo com que, de maneira inédita, as condutas machistas, homofóbicas, racistas e opressoras sejam veementemente combatidas”, diz nota.

“Quando assumimos a gestão em julho do ano passado, houve aumento da representatividade da diversidade. Eu sou bolsista e chamamos integrantes do coletivo feminista, por exemplo”, disse Luis Gustavo Perez Fakhouri, presidente da DAGV.

Com as denúncias, os casos foram encaminhados para a Coordenadoria da FGV, que, segundo o diretório, instaurou as duas comissões. “Se a punição não estiver conivente com nossa postura, vamos procurar a direção”, disse Fakhouri. A informação da abertura das comissões, no entanto, não foi confirmada pela FGV.

O Diretório pede ainda reformulação do Código de Conduta e Ética da FGV com “maior espaço para a representatividade das minorias, e a partir da introdução de temas importantes no dia a dia do alunato, como as questões de desigualdade social, de gênero e de proteção à existência de diferentes orientações sexuais no mercado de trabalho, bem como outras formas de desigualdade”, diz nota.

Por Cintia Acayaba, G1 São Paulo

 

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