A diferença salarial entre homens e mulheres é mais do que conhecida. Pior, ela aumenta com a idade: aos 21 anos, a distância de remuneração no Brasil por hora trabalhada é de 15%; aos 36 anos, alcança 34%.
A explicação convencional atribui tal disparidade à discriminação de gênero. Noções subjetivas sobre inferioridade do desempenho feminino estariam por trás da preferência por homens no momento de fazer promoções.
Não é fácil comprovar esse viés, nem medi-lo. Fato é que mulheres recebem pagamento inferior ao de colegas do sexo masculino mesmo quando têm qualificação similar.
Pesquisadores brasileiros partiram para investigar a hipótese de que o desvão salarial crescente entre gêneros sofre influência de outra variável: a acumulação de mais experiência ao longo da carreira por parte dos homens.
Valendo-se da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), compilação de dados sobre funcionários, o estudo se debruçou sobre uma amostra parcial de 443 mil trabalhadores de 21 a 36 anos com empregos formais, dos quais 195 mil (44%) do sexo feminino.
A conclusão: há maior probabilidade de mulheres mais qualificadas e produtivas saírem do mercado de trabalho, temporária ou definitivamente, do que os homens mais qualificados e produtivos.
Como permanecem em seus empregos as trabalhadoras menos capacitadas, sua remuneração, na média, também tende a ser inferior. A pesquisa estima que isso seja responsável por 32% do aumento paulatino na diferença entre salários.
O preconceito, que decerto existe, responderia por uma parcela dos outros 68% que ainda seria preciso aquilatar. Mas é evidente que funcionárias com filhos se afastam de seus cargos por mais tempo e acabam cumprindo jornadas mais curtas no emprego, porque recai sobre elas a maior parte do ônus de afazeres domésticos.
Não se trata de justificar injustiças salariais, mas de entender o que possa haver nelas de evitável.
Maior disponibilidade de creches, por exemplo, abreviaria os afastamentos. Há quem defenda, ainda, que contratos de trabalho mais flexíveis diminuiriam a discriminação contra quem precisa de jornadas menores para poder empregar-se.
Não é só uma questão de justiça. Nenhuma sociedade, afinal, pode prescindir de trabalhadores qualificados, mulheres ou homens.