No dicionário Houaiss, a palavra feminismo é definida como “teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos”. Estudiosas usam o termo no plural –“feminismos”– por considerarem que se tratam de movimentos que pautam os direitos das mulheres e a paridade de gênero em diferentes contextos, como trabalho e relações afetivas.
(UOL, 02/10/2017 – acesse no site de origem)
Mas por que ouvimos de tantas mulheres frases como “não sou machista nem feminista”, “não sou feminista porque gosto dos homens”, “não sou feminista porque sou feminina”?
O reforço para a rejeição às causas vem de pessoas públicas. Atrizes como Paolla Oliveira, Juliana Paes e Shailene Woodley, de “Big Little Lies”, já se expressaram sobre o tema e negaram o rótulo. Outro caso emblemático foi o de Dayse, vencedora da edição de 2016 do “MasterChef Profissionais”: após a final do programa, ela disse que não queria ser “símbolo do feminismo”, mesmo após passar por alguns episódios de machismo no reality show culinário da Band.
Falta de conhecimento
A antropóloga Beatriz Acciolly, pesquisadora especialista em estudos de gênero e violência contra a mulher do Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da FFLCH/USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo), afirma que um dos motivos que leva à rejeição é a desinformação. “Muitas têm medo de se dizerem feministas porque acham que vivem de uma forma que não é condizente às demandas do movimento, como casar, ter filhos e vaidade, por exemplo.”
Para Beatriz, embora existam correntes mais radicais, essas imposições não fazem parte do todo, uma vez que o objetivo principal é questionar as regras de desigualdade predeterminadas.
Feminismo não é o machismo das mulheres
Outra justificativa, que também tem sua raiz na falta de conhecimento, é a de que o feminismo é o antônimo do machismo e, por isso, prega o ódio e a opressão aos homens.
A psicanalista Maria Homem diz que, etimologicamente, há essa confusão porque a língua “cifra” as palavras, mas a significação é completamente diferente. Enquanto um oprime, o outro quer a equidade. “Não vamos repetir o erro histórico dizendo aos homens que ‘já que fomos oprimidas por tanto tempo, experimentem um pouco’.”
Incômodo dos privilegiados
Qualquer pauta que busque mudar o que foi imposto por séculos encontrará resistência, sobretudo dos que eram privilegiados pelas normas estabelecidas. Por isso, Maria Homem diz que é preciso uma real transformação do comportamento. “Não dá mais para dizer que porque sempre foi assim, mulheres em uma posição inferior, sempre será.”
A especialista diz que esse incômodo faz surgirem os estereótipos que pintam as feministas como pessoas raivosas porque preferem insistir que a mulher tenha um papel mais passivo na sociedade. E é aí que surgem termos como “feminazi”. “Mais uma vez, culpabilizamos a vítima. Quando fazem essa definição, atacam quem está ‘atrapalhando’ e ‘complicando’ o funcionamento do sistema.”
A importância de se dizer feminista
Segundo Amana Mattos, professora da pós-graduação em Psicologia Social da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e coordenadora do Degenera (Núcleo de Pesquisa e Desconstrução de Gêneros), mesmo que algumas mulheres não se identifiquem com a palavra, “é importante saberem que os feminismos pautam igualdade de direitos, algo que muitas desejam em seu dia a dia”.
Para a psicóloga Darlane Andrade, doutora pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) em estudos sobre mulher e gênero, é preciso conhecer a teoria do feminismo, pois na vivência já há uma integração com as causas. “Os estereótipos negativos colaboram para o enfraquecimento dos movimentos e, mais do que isso, reforçam a rivalidade entre as mulheres. É preciso desmistificar.”
Thaís Carvalho Diniz