Brasileiros ou estrangeiros, de décadas atrás ou dos anos 2010: se joga nas melhores leituras sobre o que é ser mulher!
(M de Mulher,07/10/2017 – acesse no site de origem)
Para quem gosta de ler, bons livros são muito bem-vindos. E eles nem sempre precisam ser obras de ficção: ler ensaios, estudos e análises também é uma delícia e nos ajuda a formar um repertório bem mais amplo de ideias e assuntos.
Que tal incluir a história e a realidade das mulheres em seus conhecimentos adquiridos pela leitura de qualidade? Selecionamos 10 livros que ajudam a entender o que é ser mulher neste mundão cheio de evoluções e que, mesmo assim, às vezes parece ter parado no tempo.
“Mulheres, Cultura e Política” – Angela Davis (Boitempo Editorial)
Discursos e artigos da ativista política norte-americana Angela Davis estão compilados em três grandes temas – Sobre as mulheres e a busca por igualdade e paz, Sobre problemas internacionais e Sobre educação e cultura –, formando um panorama de sua luta pela mudança social. Com estatísticas e dados históricos, ela apresenta as condições das mulheres, da classe trabalhadora e da população negra nos EUA nos anos 1980. Parece distante, mas tudo ainda é super atual: algumas de suas grandes preocupações são a concentração de renda e a necessidade de lutar pela educação para todos.
“Lei Maria da Penha: Uma Análise Criminológico-Crítica” – Marilia Montenegro (Ed. Revan)
Lançado em 2015, o livro traz uma análise de quase uma década da Lei Maria da Penha (Lei 11.340, de 2006). O foco escolhido por Marilia Montenegro é a relação entre o sistema penal e o sistema punitivo com os vínculos familiares e afetivos que envolvem a lei. É uma visão bem crua de como ela é aplicada e de como isso pode acabar criando um ciclo infinito de violência doméstica contra a mulher em vez de protegê-la. É daqueles livros que a gente lê e depois fica pensando, pensando e pensando mais um pouco sobre o está escrito nele.
“10 Lições Sobre Hannah Arendt” – Luciano Oliveira (Ed. Vozes)
Chocada com o fenômeno totalitário do começo do século 20, a filósofa alemã defende nos artigos deste livro as liberdades públicas. Hannah volta a Atenas para falar sobre como a estrutura da polis seria uma boa ideia no que diz respeito à esfera pública de seu tempo e arrisca dizer que não é tarefa da política resolver as questões sociais. Tudo isso dando destaque ao papel da mulher na sociedade – como é e como deveria ser.
“Sejamos Todos Feministas” – Chimamanda Ngozi Adichie (Cia. das Letras)
Este ensaio é uma adaptação do discurso de Chimamanda no TEDx Euston – aquele que foi sampleado por Beyoncé. A autora nigeriana parte de sua experiência como mulher africana para analisar o que é ser feminista no século 21 – feliz, que não odeia homens e se arruma para si, não para os outros – e por que o feminismo está aí para beneficiar mulheres e homens. Ela também levanta reflexões sobre como criar meninas para serem o que quiserem e meninos para serem mais livres, sem precisar se encaixar em características de “machões”.
“Um Teto Todo Seu” – Virginia Woolf (Ed. Tordesilhas)
Baseado em palestras que a inglesa deu em 1928 na Newham College e na Girton College, escolas para mulheres da Universidade de Cambridge, o ensaio reflete sobre a posição social da mulher, em que medida ela influencia na produção literária e como será possível conquistar mais espaço, literal e figurativamente, para as escritoras em uma área dominada pelos homens. Aqui, Virginia bate bastante na tecla de que a mulher não tem liberdade para expressar seus pensamentos. Esta edição tem, ainda, trechos de diários da autora.
“Mulheres, Violência e Justiça no Século XIX” – Marinete A. Z. Rodrigues (Paco Editorial)
Uma ampla pesquisa sobre processos criminais e inventários envolvendo mulheres de todos os estratos sociais e etnias (ricas, pobres, trabalhadoras, livres, escravas, brancas, negras, indígenas) no século 19 mostra que as relações de dominação masculina e “domesticação” feminina regiam até a Justiça naquela época. Há, ainda, um recorte que evidencia que a violência contra as mulheres fazia parte da cultura da época. (Só da época?)
“O Mito da Beleza” – Naomi Wolf (Ed. Rocco)
De que maneira e até que ponto as imagens e ideais de beleza apresentados pelas indústrias da moda e da publicidade são usados contra as mulheres? Este é o ponto de partida da norte-americana no livro, publicado em 1991. São analisadas seis áreas da vida contemporânea e sua relação com os ideais de beleza: emprego, cultura, religiosidade, sexualidade, distúrbios alimentares e cirurgias plásticas. E, assim, ela levanta o debate de que a atenção exagerada à beleza feminina impede que as mulheres conquistem mais poder real na sociedade.
“História das Relações de Gênero” – Peter N. Stearns (Ed. Contexto)
Historiador que é, Stearns traça um panorama sobre o que ocorre com as ideias de relações entre homens e mulheres quando diferentes culturas entram em contato. Da pré-história ao século atual, ele se debruça sobre encontros culturais significativos, como o impacto do islamismo do Oriente Médio sobre a Índia e a África, a influência da colonização europeia nas Américas, na Índia, na África e na Oceania, o papel das ações internacionais recentes no Oriente Médio. Isso tudo tem a ver com a visão e o papel da mulher na sociedade global de uma forma até bastante óbvia, mas que acabamos deixando passar. Ler uma análise tão completa é incrível.
“Mística Feminina” – Betty Friedan (Ed. Vozes)
É um dos livros mais importantes e mais polêmicos do feminismo no século 20 – seu subtítulo em português é nada menos que “O livro que inspirou a revolta das mulheres americanas”, vai vendo. Publicado em 1963, ele é o resultado de um estudo que envolveu centenas de entrevistas com mulheres que eram exclusivamente donas-de-casa, empresários, médicos e publicitários. A ideia foi mostrar o quão nocivo é a mulher ser criada para ser mãe e esposa, sem o desenvolvimento de habilidades próprias e extras, uma vez que com o passar dos anos essas mulheres desenvolviam distúrbios psicológicos como depressão e consumismo.
“Feminismo e Política” – Flávia Biroli e Luis F. Miguel (Boitempo Editorial)
Aqui são apresentadas e discutidas as principais contribuições da política feminista desde os anos 1980. De que forma os debates são colocados dentro do próprio feminismo? Quais são as principais autoras do movimento e a que corrente cada uma pertence? Tudo é bem respondido, de uma forma simpática, para leitores pouco familiarizados com o tema. Um bom livro para conhecer melhor o feminismo e ver que ele não é nenhum bicho de sete cabeças.
Raquel Drehmer