He For She, da ONU Mulheres, Skol e Governo do Rio veiculam propagandas contra a violência à mulher
(Meio & Mensagem, 07/02/2018 – acesse no site de origem)
Os quatro dias mais festivos do calendário nacional são também os dias em que o assédio às mulheres aumenta exponencialmente. Segundo a Central de Atendimento da Mulher (disque 180), o índice de denúncias de assédio sexual teve aumento de 90% somente no Carnaval de 2017, quando foram registradas 2.132 ocorrências.
O tema assédio tem sido constante nas manchetes dos principais veículos do mundo desde o final do ano passado, com o escândalo Harvey Weinstein, que respingou em outros nomes poderosos da indústria cinematográfica – Kevin Spacey, James Franco, Woody Allen, somente para citar alguns – e deu vazão ao movimento #metoo, ou #eutambém, aqui no Brasil. No mercado de comunicação não tem sido diferente: neste início de ano, Vice, Condé Nast, Wieden+Kennedy e Droga5 afastaram profissionais sob investigação de acusações de assédio sexual.
Diante deste contexto, neste Carnaval, o assunto é porta-estandarte para marcas como Skol, de entidades, caso da ONU Mulheres, que encabeça a iniciativa He for She, e de secretarias do governo do Rio de Janeiro.
Além do tema, as campanhas destas três partes compartilham um tom didático para explicar aos homens a diferença entre paquera e assédio e reiterar o limite imposto pelo “não”. Encabeçada pelo conceito “Respeita as mina. É simples”, a campanha de Carnaval do movimento Eles Por Elas He For She, da ONU Mulheres, aposta em peças que basicamente ensinam homens a respeitar mulheres. “É importante desenvolver esse didatismo, essa questão mais tangível, pegando eles pela mão e explicando o que é aceitável e o que não é. De forma objetiva, explicitar o óbvio”, diz Ira Finkelstein, vice-presidente de estratégia da Heads e membro do Comitê Nacional Impulsor He For She.
Com cores concretas como azul e laranja, os anúncios criados pela Heads trazem ilustrações de mulheres de diferentes biótipos e mensagens que desmentem a percepção tipicamente machista de que se uma mulher está agindo de determinada forma, está insinuando algo para o homem: “Quando a mulher está rebolando até o chão, significa que ela está querendo rebolar até o chão”; “Se a mulher veste roupas curtas, significa que ela está querendo vestir roupas curtas”, “Se a mulher disse não para você, significa que ela disse não para você”.
O mesmo teor explicativo foi utilizado pela F/Nazca Saatchi & Saatchi para a comunicação de Skol durante o período carnavalesco. No filme “Chegar pegando”, um rapaz paralisa o bloco de rua ao dizer que “no carnaval, é legal chegar pegando”. Logo em seguida, seu amigo emenda: “pegando autorização pra pegar”. “Uma marca tem que ter uma verdade e ela tem de ser concreta. A bandeira de Skol é sobre respeito, abra a roda e deixa todo mundo entrar, a vida é mais legal quando você ouve outros pontos de vista”, disse Maria Fernanda Albuquerque, diretora de marketing de Skol, em conversa com o Meio & Mensagem. Além dos filmes veiculados na TV e nas redes, a marca recrutou influenciadores digitais, como Jout Jout e Maíra Medeiros, para estender o debate.
O período que antecede a folia de fevereiro é permeado por diferentes estímulos de comunicação. Por isso, Ira conta que a Heads optou por estar em locais com grande circulação de massa: transporte público e Facebook. Por ser pro bono, a campanha de He For She está sendo viabilizada com apoio do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do Metrô de São Paulo, entre outros órgãos, e com o patrocínio de Atento, Avon e Itaipu Binacional. Realizado em diversos países, o movimento da ONU Mulheres, criado em prol da igualdade de gênero, irá utilizar essa campanha para repercutir globalmente o fato de que a responsabilidade do assédio é do assediador, nunca da vítima.
BRTs, Metrô Rio, Super Via e as ruas por onde passarão os principais blocos são os pontos de ação da campanha publicitária realizada pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos do Rio de Janeiro. Intitulada “Carnaval é curtição, respeita o meu não”, a ação tem parceria com a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança para colocar a postos policiais mulheres e equipe de direitos humanos para atender as mulheres que precisarem de ajuda.
Além dos anúncios no transporte público e vídeos nas redes sociais, serão distribuídas ventarolas que reforçam o respeito à vontade das mulheres. “A ideia é disseminar a mensagem no calor do momento, trabalhar a consciência dos homens para que haja cultura do respeito e, ao mesmo tempo, conseguir atender as mulheres que forem assediadas ou se sentirem desrespeitadas. A mulher precisa de mais atendimento e, o principal, ser encorajada a fazer a denúncia”, afirma o secretário de direitos humanos Átila Alexandre Nunes.
Para o secretário, é fundamental que as marcas também atuem pela igualdade de gênero e em combate ao assédio. “O Estado tem participação importante nessas questões mas, em um cenário global de intolerância, as marcas e órgãos regulatórios como o Conar precisam barrar propagandas sexistas, que vão contra o momento que estamos vivendo”, comenta.
Boa vontade das marcas existe, mas ainda falta lapidar o tom e a forma quando abordam esses temas, observa Ira. “Há dificuldade em abordar isso sem parecer que o interesse veio somente porque o assunto está em relevância. Mas está ocorrendo algo extremamente positivo, nos últimos seis meses a comunicação tomou mais corpo e coragem, e isso tem a ver com o que está acontecendo no RH das empresas, que estão cobrando dos gestores ações concretas que tenham espelhamento nas marcas da empresa de dentro para fora”, diz.
Isabella Lessa