Esta pesquisa, realizada na USP, investiga como matérias jornalísticas retratam a diversidade sexual e de gênero. O autor analisa três livros-reportagem relacionados ao tema e apresenta caminhos para uma abordagem mais respeitosa da população LGBT pela imprensa.
(Nexo, 21/02/2018 – acesse no site de origem)
Entre as conclusões, o pesquisador destaca que o preparo dos jornalistas para falar de diversidade sem reforçar estereótipos ainda é insuficiente. Algumas iniciativas jornalísticas, no entanto, já têm maior sensibilidade em relação ao tema e ajudam a modificar o atual cenário de desigualdade.
1. A qual pergunta a pesquisa responde?
A pesquisa investiga de que forma as narrativas jornalísticas podem contribuir para o respeito à população LGBT.
2. Por que isso é relevante?
Com frequência, notícias e reportagens reforçam ideias e estereótipos sobre a comunidade LGBT. Em muitas delas, o foco narrativo não contribui para gerar entendimento sobre pessoas incompreendidas pela sociedade. No entanto, a prática jornalística faz mais do que informar o cidadão. As narrativas acessam ideias, crenças e atitudes e podem contribuir para modificar o cenário de desigualdade e dar espaço às vozes marginalizadas.
3. Resumo da pesquisa
Os embates em torno das opressões de gênero e as questões relativas à dignidade humana de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e [homens e mulheres] transexuais têm redefinido os comportamentos e os diálogos sociais contemporâneos. Narrativas jornalísticas têm captado com maior intensidade o caráter humano, público e político das questões de diversidade sexual e de gênero. Todavia, é perceptível a dificuldade que jornalistas encontram para estabelecer relações com pessoas LGBT em função do aparato cultural de gênero que carregam, mas não só. Nesse contexto é que esta dissertação ensaia uma compreensão em torno do papel do jornalista (o mediador social) em criar caminhos de compreensão, de solidariedade e de reconhecimento com o outro, em especial com a população LGBT. Desenvolve-se, também, uma análise cultural da narrativa de três livros-reportagem escritos por jornalistas brasileiras: “O Nascimento de Joicy”, de Fabiana Moraes; “Muito Prazer – Vozes da Diversidade”, de Karla Lima e “Entre a Cruz e o Arco-íris”, de Marília de Camargo César.
4. Quais foram as conclusões?
O que se nota é que os jornalistas estão pouco preparados para construir narrativas sobre as pessoas LGBT sem reforçar a ordem de gênero e qual modelo de sexualidade é legitimado socialmente, mas temos exemplos de respeito e cuidado com o outro que ajudam a subverter o olhar social.
Se a narrativa jornalística considera estratégias de reconhecimento, de solidariedade e diálogo, há uma chance maior de o conteúdo jornalístico produzido ter mais sensibilidade e uma aproximação da realidade desse outro. Portanto, terá mais chance de transpor as interpretações hegemônicas de gênero. Ou seja, alguém que a sociedade julga como fora do espectro legítimo de sexualidade e gênero terá sua voz escutada com a devida responsabilidade. Dessa forma, percebe-se que o trabalho jornalístico precisa ser pautado pela solidariedade e pelo diálogo, com o devido cuidado ético.
5. Quem deveria conhecer seus resultados?
A dissertação de mestrado tem um cunho público, mas será fundamental para os jornalistas, professores e estudantes de jornalismo, uma vez que tem foco nas práticas profissionais diante de grupos vulneráveis na sociedade brasileira.
Gean Oliveira Gonçalves é mestre em ciências da comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Possui graduação em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atuou como repórter na imprensa voltada ao público LGBT e como assistente de comunicação no governo do Estado de São Paulo. É autor de pesquisas sobre alteridade, jornalismo, diversidade, direitos humanos, gênero e sexualidade.