Para diretor da ONG Educafro e defensor das cotas raciais nas universidades, decisão de Trump dará visibilidade à conquista no Brasil
(O Estado de S. Paulo, 04/07/2018 – acesse no site de origem)
1.A decisão de Donald Trump pode ter impacto sobre a legislação brasileira?
Tivemos hoje (terça-feira, 3) uma reunião com juristas e militantes para discutir essa atitude de Trump. A nossa vitória (das cotas no Brasil) não foi de esquina. Foi uma vitória obtida na Câmara e no Senado em debates com deputados e senadores. A democracia exige votos e o voto definiu que a cota no Brasil é constitucional. E para não ter nenhuma dúvida, nós recorremos ao Supremo Tribunal Federal, que definiu que para mudar as cotas será preciso mudar a Constituição do Brasil.
2. A decisão pode dar força aos movimentos que se opõem às cotas no País?
Temos certeza de que os movimentos contra cotas vão usar muito esse debate, mas para nós vai ser melhor ainda. Vai fazer que todo o sucesso das cotas venha à tona. No Brasil, temos dezenas de universidades que já fizeram pesquisas sobre cotas. E todas elas estão provando que as cotas trouxeram grandes resultados. Não só para o povo negro. Portanto, é uma política pública consolidada de sucesso e integradora.
3.O presidente americano tem ferramentas para colocar em prática esse recuo nas cotas?
Ele não tem. Ele mandou fazer um levantamento de todas as universidades que, usando de sua autonomia universitária, adotaram algum plano de inclusão de negros e, em seguida, com um decreto, ele suspendeu essas ações das universidades. Isso é uma interferência doentia no mundo acadêmico. Temos certeza de que os reitores e os professores universitários vão reagir, que o Congresso americano, que é muito mais honesto do que o presidente, também vai reagir.