Iniciativa começou no dia 22 de agosto. O objetivo é dar voz às mulheres que foram vítimas dentro da universidade.
(G1/MG, 28/08/2018 – acesse no site de origem)
A gente tem que começar a falar sobre isso. Este é o primeiro passo”, disse Luisa Pereira, residente de infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de minas Gerais (UFMG) e membro do Coletivo de Mulheres Alzira Reis, ao mencionar as mais de 100 denúncias de assédio recebidas pelo grupo em seis dias.
O grupo criou um formulário online para que casos deste tipo ocorridos dentro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sejam denunciados. “Ele será usado anonimamente (a não ser que se deseje identificar) para uma exposição dos absurdos pelos quais passamos na faculdade”, diz publicação feita em rede social.
“Ele me agarrou a força e logo me levou para um lugar escuro do alojamento, onde abaixou a calça e começou a mandar eu fazer algumas coisas”, diz uma das denúncias.
Em outro texto, a vítima faz o seguinte relato, “fui estuprada por um colega de sala em um dia que estava bêbada, ele com certeza não considerou que foi violência mas eu não me lembro de nada e depois de me sentir muito culpada hoje entendo que ele não tinha o direito de fazer aquilo comigo já que sabia que eu estava muito alterada para consentir ou não”, diz uma das denúncias.
“Eu estava de roupas normais e com a roupa de bloco na mão, indo para o vestiário trocar de roupa. Dei oi para os dois, meu preceptor respondeu, o anestesista falou ‘olha nem te reconheci’. Eu comentei, ‘sem a roupa de bloco todo mundo é diferente, né?’. Ele respondeu, ‘é, eu prefiro você sem roupa’”, contou outra aluna.
Na página do Coletivo de Mulheres Alzira Reis – Saúde UFMG foram publicadas definições de assédio, incluindo moral e sexual, para incentivar que os casos sofridos, envolvendo alunos, professores e funcionários, sejam compartilhados.
“A gente passa por coisas como estas diariamente. Por isso decidimos fazer alguma coisa. Vamos tentar junto com a universidade encontrar uma maneira de receber melhor estas denúncias, de acolher melhor essas mulheres”, disse Luisa.
“Foi decidido que serão convidados para uma reunião representante do Coletivo e representantes dos diretórios acadêmicos dos três cursos de graduação (Medicina, Fonoaudiologia e Superior de Tecnologia em Radiologia), para tratar da questão, pois a Faculdade precisa ouvi-los para que possamos auxiliá-los. Haja vista que os comentários ainda não se tornaram denúncias formais na Escuta Acadêmica”, disse em nota.
Ainda segundo a universidade, há um setor chamado Seção de Escuta Acadêmica, que recebe demandas relacionadas aos estudantes e auxilia em questões pessoais que afetem o desempenho escolar. O setor também encaminha, quando necessário, para tratamentos psicopedagógicos. “Todas as demandas, inclusive denúncias formalizadas, são respondidas e/ou apuradas de acordo com as normas da Universidade”, completou a direção.
O coletivo fica localizado no Campus Saúde, na Avenida Alfredo Balena, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O grupo se propõe a acolher mulheres que sofreram opressão na universidade, debater o machismo no contexto universitário, intervir e promover a reflexão do feminismo e discutir a forma como a saúde da mulher é abordada pelos cursos. As reuniões são abertas.
O Hospital das Clínicas da UFMG administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), disse em nota que “não recebeu nenhuma denúncia formal de assédio envolvendo residente ou aluno em seus canais de escuta”. Ainda segundo a instituição, ela “repudia qualquer forma de assédio, agressão ou desrespeito à mulher, bem como qualquer tipo de violência ou preconceito contra o ser humano, e que zela para que as relações entre trabalhadores, professores, residentes e alunos sejam sempre harmoniosas e respeitosas”.
As denúncias podem ser feitas na Comissão de Residência Médica do HC-UFMG ou pela ouvidoria.
Por Thais Pimentel, G1 MG, Belo Horizonte