A violência contra a mulher deveria entrar nos programas de ética e compliance de ambientes corporativos; agressões têm impacto negativo no desempenho profissional e econômico
(DCI, 27/08/2018 – acesse no site de origem)
As empresas, que há algum tempo vêm trabalhando no sentido de promover maior equidade de gêneros em sua força de trabalho, até agora não incluíram em seus programas de ética e compliance ações para combater a violência contra as mulheres fora do ambiente corporativo. “Está na hora de as companhias irem mais além de sua função econômica e assumirem um papel social para reduzir as estatísticas crescentes de vítimas da violência doméstica”, afirma Heloisa Macari, sócia-diretora da área de compliance na consultoria global Protiviti e professora de Ética e compliance na Fundação Instituto de Administração (FIA), em São Paulo.
Consequências profissionais e econômicas
Embora a questão pareça distante do mundo corporativo, os dados sobre o feminicídio também têm impacto altamente negativo na economia, enfatiza Macari à coluna Plano de Voo. Segundo pesquisas da Universidade Federal do Ceará e do Instituto Maria da Penha, as vítimas perdem, em média, 18 dias de trabalho ao ano apenas por consequência direta das agressões sofridas. “As consequências na carreira destas mulheres envolvem menor estabilidade, menos tempo de permanência em seus cargos e, também, menor produtividade”, argumenta Macari.
Maioria vê só o ambiente corporativo
Se a legislação (como a Lei Maria da Penha, vigente há 12 anos no País) e as políticas públicas ainda não foram eficazes no combate às agressões dirigidas às mulheres, encontrar alternativas para educar, difundir direitos e conscientizar sobre a necessidade do aprimoramento dos mecanismos de enfrentamento é medida crucial para contribuir com a preservação de vidas, na opinião da professora e executiva da Protiviti. “A grande maioria das empresas olham só para o que acontece além de suas instalações, principalmente quando o assunto é a violência contra as mulheres.”
Além da equidade de gênero…
Na contramão desta realidade, algumas grandes empresas pioneiras na inclusão e diversidade já estão atentas ao tema e, assim, vêm criando estruturas internas de proteção à mulher. Caso da Magazine Luiza, que criou um canal interno para as funcionárias manifestarem agressões e receber orientações da empresa, conta Macari. A principal preocupação das companhias engajadas no combate à violência de gênero é a de que suas colaboradoras sejam vítimas do feminicídio, tendo suas vidas interrompidas por omissão de toda uma sociedade
….a proteção à mão de obra feminina
Não é necessário criar grandes estruturas para oferecer à mão de obra feminina um acolhimento de casos de violência doméstica. “Recomendamos a nossos cerca de 300 clientes a utilização de canais existentes no âmbito de programas de ética e compliance, para denúncias e reclamações de questões do ambiente de trabalho, para servirem também de estímulo às mulheres para manifestar a agressão sofrida fora da empresa”, explica Macari. Além de orientações sobre legislação, as empresas podem ainda treinar as profissionais com técnicas de prevenção à integridade física.
Por LILIANA LAVORATTI, editora de fechamento