Saúde falha em oferecer atendimento qualificado para grávidas

03 de setembro, 2018

Médica afirma que hospitalização no parto chega a cerca de 98% e as mortes ocorrem, principalmente, dentro dos serviços de saúde

(Jornal da USP, 03/09/2018 – acesse no site de origem)

O Brasil não conseguiu cumprir o compromisso internacional para a redução de 75% das mortes maternas até 2015. A meta era se limitar a 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos, mas a taxa ficou em 62 por 100 mil nascidos vivos e, em 2016, subiu para 64,4. O Jornal da USP no Ar conversou com a doutora Carmen Simone Grilo Diniz, do Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da USP, sobre os motivos que levaram a esses números e as recomendações necessárias.

A maioria dos casos de mortalidade materna pode ser evitada e ocorre principalmente por hipertensão, hemorragia, infecções e abortos. A médica explica que o financiamento insuficiente do SUS e de políticas públicas é uma das causas da estagnação em taxas elevadas, que duram desde o início do século. O problema não é o oferecimento do serviço, mas sua qualidade, já que o adoecimento, sofrimento e morte materna estão relacionados à falta da assistência adequada ou à assistência inadequada, completa Carmen.

A especialista afirma que a hospitalização no momento do parto chega a cerca de 98%, ou seja, as mortes acontecem, principalmente, dentro dos serviços de saúde. Para Carmen, o fato mostra dificuldade em responder a situações críticas e o pré-natal falha em identificar e tratar de maneira oportuna os casos graves. Também há a falta de capacitação dos profissionais e de estrutura dos serviços oferecidos, além de excesso de intervenções nesses serviços, sobretudo cesáreas e induções.

Para resolver a situação, Carmen propõe um monitoramento mais próximo da mulher grávida e continuidade do cuidado, o oferecimento de um atendimento pré-natal de qualidade, uso de protocolos para padronizar ações para determinadas condições e vigilância dos óbitos para descobrir suas causas e falhas do sistema. Além disso, a doutora trata sobre o aborto ilegal como uma condição que agrava a mortalidade materna, pois o procedimento é responsável por matar mulheres de baixa renda, já que as que possuem melhores condições sociais conseguem pagar por um aborto seguro.

A centralidade do médico durante os partos é outra questão trazida pela médica. Ela diz que, no cenário internacional, outras figuras são capacitadas para assistir ao procedimento, como enfermeiras obstetras e parteiras, o que gera menos intervenções e permite que os médicos foquem os casos mais graves.

Outro assunto tratado é a cesárea, procedimento muito realizado no Brasil e uma das causas da mortalidade materna, confirma a especialista. Porém, Carmen ressalta o aumento da busca pelo parto natural, com o mínimo de intervenções, que se adeque às necessidades e segurança das mães, o que é capaz de reduzir a mortalidade materna.

Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.

Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93,7, em Ribeirão Preto FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular. Você pode ouvir a entrevista completa no player acima.

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