O empoderamento feminino não garante apenas inclusão e igualdade, mas também maior diversidade de ideias. Um estudo publicado na revista Science na última quinta-feira (17) sugere que em países que propiciam maior igualdade de oportunidades para ambos os gêneros, as escolhas e preferências das mulheres se diferenciam mais das dos homens.
(UOL, 19/10/2018 – acesse no site de origem)
Ou seja, quanto mais as mulheres têm acesso a recursos que deem autonomia, mais as suas preferências se diferem das dos homens. E isso vale tanto para países ricos, onde há mais recursos à disposição de todos, quanto para lugares em que há maior igualdade de gênero e inclusão social de mulheres.
O caminho para chegar a essa conclusão é complexo. Os pesquisadores Armin Falk, da Universidade de Bonn, na Alemanha, e Johannes Hermle, da Universidade da Califórnia, dos EUA, analisaram as respostas dadas por 80 mil homens e mulheres em 76 países em pesquisa sobre preferências. Os dados são de pesquisa de opinião feita pela empresa Gallup no mundo todo em 2012.
Comportamentos relacionados a paciência, altruísmo, reciprocidade negativa e positiva, confiança e tendência para assumir riscos foram avaliados de acordo com o gênero. Para os pesquisadores, essas são preferências fundamentais, relativas a percepções da passagem do tempo, da tomada de riscos e das interações sociais.
Em seguida, a dupla de economistas comparou as semelhanças e diferenças entre as respostas de homens e mulheres de acordo com características sociais e econômicas dos países. “Diferenças de preferências entre os gêneros [homens e mulheres] estão positivamente relacionadas ao desenvolvimento e à igualdade de gênero”, afirmam os autores no artigo.
Para eles, o resultado indica que homens e mulheres tendem a realizar escolhas diferentes em relação à profissão, investimentos financeiros, decisões educacionais, entre outros. E essas diferenças variam entre países e culturas.
“Esse achado sugere que maior disponibilidade e acesso igualitário a recursos materiais e sociais favorecem a manifestação de preferências diferenciadas entre homens e mulheres “, dizem Falk e Hermle.
A pesquisa dá força a uma das explicações correntes sobre as diferenças de preferências entre homens e mulheres: a de que essas diferenças se expandem em contextos onde mulheres podem desenvolver seus potenciais e se expressar independentemente.
Assim, a explicação para a diferenciação das preferências entre homens e mulheres está na maior autonomia das mulheres e em sua capacidade para resistir à influência da sociedade, na qual as visões masculinas são predominantes.
“Nosso estudo destaca o papel crítico da disponibilidade de recursos materiais e sociais, bem como o acesso igual a esses recursos por homens e mulheres, para a formação e expressão independente das preferências específicas dos sexos”, afirmam os pesquisadores.
Brasil possui baixa diferenciação de preferências
Com os dados sobre as diferenças de preferências entre homens e mulheres em 76 países, os pesquisadores criaram um ranking. No topo da lista, como países nos quais as preferências e escolhas das mulheres mais se diferenciam das dos homens, estão Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Suécia, Austrália, Holanda e Áustria.
Já nas últimas posições do ranking estão países da África e da Ásia, como Gana, Iraque, Tanzânia, Paquistão, Irã, Camboja e Nicarágua. O Brasil aparece na 58º colocação, logo atrás de países como Turquia, Jordânia, Ruanda e Filipinas.
Chamam atenção países como o Japão e a Alemanha, que possuem economia pujante, mas figuram, respectivamente, na 20º e 23º posições, atrás da Argentina. E a Bolívia, que a despeito de seu baixo desenvolvimento econômico, figura na 16º posição, na frente da Rússia.