Uma das principais feministas da América Latina, Amelinha formou 5 mil promotoras populares para divulgar as conquistas legais obtidas pelas mulheres. Elas ainda ensinam as brasileiras a se defender acessando a Justiça
(Marie Claire, 12/11/2018 – acesse no site de origem)
Na luta pelos direitos civis, Maria Amélia de Almeida Teles, mais conhecida como Amelinha, 74 anos, sempre se colocou entre os combatentes da primeira fileira. Na ditadura militar, instaurada em 1964, foi presa política, junto com o marido, César, e torturada cruelmente. Os algozes levaram seus dois filhos pequenos para vê-la completamente desfigurada pelas agressões. Resiliente, mais tarde tornou-se membro incansável da Comissão da Verdade, que apurou os crimes cometidos nos anos de chumbo.
Bacharel em direito, tem atuação marcante na defesa das brasileiras. Fundou há 34 anos a União de Mulheres de São Paulo, e, em 1987 e 1988 participou do lobby do batom, um marco histórico e civilizatório. Tratava-se de uma pressão que feministas de todo país fizeram sobre os parlamentares para que incluíssem avanços na Constituição que estavam elaborando. O Lobby do batom conseguiu aprovar 80% das reivindicações das mulheres para ampliar direitos civis, econômicos e sociais. “Pela primeira vez uma constituição colocou, com todas as letras em seu artigo 5º, que homens e mulheres são iguais”, diz Amelinha.
Mas não é dormir sobre conquistas. De que adiantariam direitos na letra, se não fossem efetivamente aplicados? As mulheres tinham de brigar por isso. Amelinha encabeçou o lançamento, em 1994, do projeto Promotoras Legais Populares (PLPs). “Formamos mulheres para entender as leis, valorizar o direito, ampliá-lo e aprender o caminho de acesso à justiça”, explica. “Elas se tornam multiplicadoras desses conhecimentos na família, escola, igrejas e nas comunidades”. O curso prevê encontros semanais, por um ano, é ministrado na Câmara Municipal, e transmitido pela internet. “Nós o levamos até a presídios femininos de São Paulo e de Campinas”, diz Amelinha. “A metodologia se espalhou e hoje a formação acontece em várias cidades do país.” Impacto: Só no Estado de São Paulo, foram formadas mais de 5 mil mulheres, de 25 municípios.
O trabalho ganhou mais urgência quando entrou em vigor a Lei Maria da Penha (LMP). Era preciso divulgar a novidade, explicar cada artigo e os desdobramentos da lei. Numa parceria com o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, a ong de Amelinha criou o projeto Maria, Marias. “Nas aulas-debates destrinchamos a LMP. Em geral, o curso é procurado por pessoas que trabalham na rede de proteção”, conta a finalista de Sociedade Civil. Uma vez por ano, ela comanda o “Abraço solidário às mulheres em situação de violência”. É uma celebração da vitória na frente do Tribunal de Justiça de São Paulo, em delegacias de defesa da mulher ou outro equipamento da rede de apoio.