Criadora do Fundo Elas, no Rio de Janeiro, a socióloga sensibiliza investidores para aplicar recursos em projetos sociais. As ações emancipam financeiramente as pessoas que se empoderam politicamente e conquistam oportunidades
(Marie Claire, 12/11/2018 – acesse no site de origem)
Em 2010 Amália Fischer, 63 anos, juntou quatro mulheres, todas ativistas e feministas lésbicas, para criar o Fundo Elas. “Estava surgindo no Brasil a ideia do investimento social. Era hora de lançar a proposta inovadora do fundo”, diz a mexicana-nicaraguense que chegou ao Brasil em 1995 para um doutorado em comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, apaixonou-se pelo país e ficou por aqui. No México, já contribuía com o Fondo Semillas, que tem propósito semelhante.
Amália encontrou uma cultura de doação direcionada à caridade e a projetos que envolvem crianças e educação. O primeiro desafio foi desenvolver o hábito de oferecer verbas para causas, digamos, menos palpáveis. Seu maior trabalho era – e ainda é – convencer empresas e instituições a destinar dinheiro para fortalecer o protagonismo e a liderança de mulheres com capacidade de mobilizar outras em torno do direito de todas, como explica a coordenadora-geral do Fundo Elas, finalista na categoria Sociedade Civil.
“Não foi fácil fazer os doadores entenderem a importância da equidade de gênero”, lembra. Era preciso explicar que quando uma mulher estuda e trabalha ela promove os filhos, o companheiro, os parentes e ainda influencia as vizinhas. Todos crescem, a sociedade se tornar mais justa e sustentável. Assim, o Fundo seleciona candidatas pobres que têm projetos importantes, as capacita em cursos de gestão, comunicação, liderança, finanças… Já fomentou em comunidades carentes pequenas padarias, lanchonetes, salões de beleza e inúmeros projetos de empoderamento político e social.
O impacto: em 18 anos, o Fundo Elas apoiou cerca de 450 trabalhos, mobilizando mais de R$ 26 milhões em doações.
No último edital, o Elas recebeu 127 propostas de vinte estados brasileiros e selecionou dez. Todas focadas no protagonismo de lésbicas, bissexuais e trans. Uma das escolhidas foi TransFormar, da Associação de Travestis e Transexuais de Curitiba, que criará um espaço de debate sobre os direitos de travestis e transexuais em liberdade ou privadas de liberdade. Inclui cursos sobre segurança pública, saúde, educação e assistencial social no sistema prisional.
Outro projeto é de Altamira, no Pará, apresentado pelo Coletivo de Mulheres Negras Maria-Maria (Comunema), com foco nas consequências sociais de megaprojetos, como a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, que causaram desequilíbrio na região transamazônica e do Xingu. Propõe a organização política de LGBTI, a formação em cidadania e direitos humanos, o combate ao racismo, feminicídio e cyberbulling.