Quem lê as manchetes pode pensar até que as mulheres morreram acidentalmente.
(BuzzFeed Brasil, 03/12/2018 – acesse no site de origem)
No mês passado (27), mais um caso no qual o marido assassinou a mulher saiu na imprensa com uma manchete que parecia estar falando de uma situação completamente diferente.
A taxa de feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo – portanto, infelizmente, notícias de mulheres assassinadas pelos parceiros estão toda hora na mídia. Mas quem lê as manchetes talvez não perceba a dimensão do problema.
Quem ler esta, por exemplo, pode pensar até que foi ACIDENTE.
Em cada manchete tem algo que tenta mascarar a natureza real desse crime. Por exemplo, o que a palavra “apaixonado” está fazendo aqui?
REPROVADO EM AMOR? A reportagem fala de um assassino que matou uma mulher. Amor não tem a ver com isso e piadas muito menos.
Mesmo quando o crime é reportado com clareza, as manchetes parecem ter receio de dizer que o assassino foi o parceiro amoroso da vítima.
Quem ler isso aqui vai achar que foi bala perdida: ela foi “atingida por um disparo no rosto” DISPARADO PELO NAMORADO.
Esta manchete chama o feminicídio de “doença urbana” de tanto que é comum, mas comete a imensa mancada de chamar de “passionalismo”, associando com paixão.
Aqui, parece que a moça terminou um namoro e depois aleatoriamente foi estrangulada.
E esta manchete chega a dizer que o assassino é o WhatsApp para não ter que dizer que um homem matou a própria namorada.
Por Susana Cristalli e Rafael Capanema, da equipe BuzzFeed, Brasil