Coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher do Rio denuncia falta de investimento e sucateamento dos lugares que deveriam ajudar mulheres agredidas.
(Jornal Nacional, 07/01/2018 – acesse no site de origem)
O número de casos de violência contra mulheres em todo o país tem chamado a atenção neste começo de ano. Especialistas dizem que é preciso maior investimento na prevenção.
2019 só tem sete dias e os casos de violência contra a mulher e feminicídios já não podem ser contados pelos dedos das mãos. Elizangela, Eliane, Marcelle, Iolanda, brasileiras assassinadas de forma covarde pelos homens que deveriam amá-las.
Em Itupeva, interior de São Paulo, o ex-marido de Elizangela Pereira de Almeida deu mais de 20 facadas nela. Elizangela já tinha registrado boletim de ocorrência por causa das agressões que sofria de Edvaldo da Silva, que está foragido.
“Ele era muito possessivo, ele não admitia nunca o término. Quero justiça, só isso que a gente quer, que minha mãe a gente já perdeu”, disse a filha de Elizangela.
Em Esperantina, Piauí, Eliane Sousa Paiva estava numa festa quando foi morta pelo ex-companheiro, identificado apenas como Marcelo. Depois de atirar nela, o homem cometeu suicídio.
No Rio, Tamires Blanco da Silva, Marcelle Fernanda Rodrigues, Simone Oliveira de Assis Carvalho e Iolanda Souza também foram assassinadas desde a virada do ano.
O pesquisador Daniel Cerqueira, do Ipea, diz que cinco mil mulheres morrem por ano no Brasil, 40% delas assassinadas por seus atuais e ex-companheiros. Isso porque a Lei Maria da Penha conseguiu frear esse processo de violência contra a mulher. Mas a aplicação da lei ainda tem falhas.
“A Lei Maria da Penha, para funcionar, precisa que sejam criadas as instituições, as varas especializadas delegacias para mulheres, os serviços protetivos e, em alguns lugares, eles simplesmente foram deixados de lado, não foram criados, então há um problema de política pública muito forte aí”, explicou Cerqueira.
O Centro Integrado de Atendimento à Mulher (Ciam) de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi inaugurado em 2008, como centro de referência para mulheres vítimas da violência nos 13 municípios da região. Tinha advogados, assistentes sociais e psicólogos e durante seis anos prestava, em média, 1.500 atendimentos por ano.
Em 2014, como uma rede de saneamento básico e uma creche, que estavam no projeto original, não foram construídos, o Ciam acabou desativado.
A coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher do Rio, Flávia Nascimento, denuncia a falta de investimento e o sucateamento dos lugares que deveriam ajudar as mulheres agredidas.
“Para além da dependência econômica, a mulher tem uma dependência emocional muito grande do seu agressor e isso contribui para que ela permaneça nesse ciclo. O atendimento que é prestado nos centros de referência é fundamental para que a mulher a resgate a sua autonomia e tenha forças para deixar esse relacionamento abusivo que ela vive”.
Uma opção é o mapa do acolhimento, uma plataforma na internet que surgiu em 2016 para conectar mulheres que sofreram violência a uma rede de terapeutas e advogadas, dispostas a ajudá-las de forma voluntária.
A voluntária Marina Ruzzi começou há um ano.
“Eu vi no mapa do acolhimento uma iniciativa muito bacana para que eu pudesse oferecer o meu conhecimento jurídico para mulheres que realmente estejam necessitadas”, disse.
Como a advogada Ana Cristina Rossi. Ela saía de uma festa em Florianópolis com o namorado quando foi agredida pelo ex. A jovem sofreu fratura e um corte no nariz.
“Na frente de todo mundo ali ele deu um soco só. Na frente de todos, um soco só que pegou nos dois, no rosto dos dois”, contou.
Pior é quando o agressor é reincidente. O DJ João René Espinheira Moreira, de Salvador, tem seis queixas registradas contra ele, responde a quatro processos na Justiça da Bahia, por agressão a mulheres. No sábado (5), ele fez da ex-namorada mais uma vítima.
“Agrediu com socos, pontapé, murro. Ele jogou um vidro no banheiro da minha cabeça que fez um corte e me deu um murro, apertou o meu pescoço. Foi uma cena de horror”, disse a bacharel em direito Juliana Galdino.
O DJ João René disse que foi um erro e que está arrependido.
O governo do Rio declarou que o Centro Integrado de Atendimento à Mulher da Baixada foi transferido para um prédio de fácil acesso em Nova Iguaçu.
A Defensoria Pública do Rio afirmou que o novo local fica nos fundos de uma delegacia.