O Destak inicia hoje uma série de reportagens especiais sobre o Dia Internacional da Mulher
(Destak, 08/03/2019 – acesse no site de origem)
Todos nós conhecemos uma mulher que é a principal responsável financeiramente pela casa. Uma mulher que criou os filhos sozinha e hoje ainda ajuda a educar os netos. Uma mulher que sai de casa cedo, deixa os filhos na escola e vai para o trabalho. Mas todos nós conhecemos mulheres que não se encaixam em nenhum desses estereótipos.
Isso é o que o Destak se propõe a mostrar nesse Dia Internacional das Mulheres. Que nenhuma mulher precisa se encaixar em rótulos imposto pela sociedade e pode se sentir à vontade em qualquer padrão.
Para isso, vamos trazer histórias de pessoas e organizações em diferentes segmentos da sociedade, como esporte, música e no campo. O que eles têm em comum é a luta para romper com essas barreiras e mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser.
Mas para começar a contar o quanto esse reconhecimento é importante vamos falar um pouco sobre um conceito defendido por muitas mulheres: o feminismo. E ele é apresentado como um direito. Sim! Um direito.
Muitas pessoas propagam que o feminismo é o contrário de machismo. Mas, desde as grandes manifestações pela garantia ao voto das mulheres, até agora, pela equiparação salarial entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo, são lutas características do feminismo.
“O que é divulgado é que o feminismo é uma ideologia que induz a perversões. Mas o feminismo nada mais é do que um direito humano de as mulheres serem iguais aos homens nos salários, tratamentos, no direito de ir e vir sem ser molestada”, explicou a socióloga e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Heloísa Buarque de Hollanda.
No Brasil, o feminismo tem conotações negativas e muitas vezes relacionadas apenas a sexualidade. Mas o que o movimento feminista se propõe a mostrar é que apesar de elas serem maioria entre os trabalhadores e, muitas vezes, serem mais escolarizadas do que eles, pesquisas do IBGE mostram que o rendimento médio delas equivale a cerca de ¾ dos homens.
“A primeira associação das pessoas é de que feministas odeiam os homens. Isso é uma inverdade. O feminismo é a crença de que mulheres são iguais aos homens”, afirmou a professora da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Susana Funck, especialista em estudos de gênero.
E para quem acha que o movimento feminista só tem notoriedade agora está muito enganado. Ele ganha força no Brasil ainda na década de 1970. Na ocasião, entre as principais reivindicações estava, por exemplo, o direito a creche.
“O feminismo é chave para a conquistas de direitos como, por exemplo, contra a violência às mulheres”, ressaltou Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, organização que atua pelos direitos das mulheres.
O que é unânime entre as especialistas é a definição de que a informação é a chave para a garantia dos direitos e ela deve começar na escola. Jacira Melo acredita que apenas as mudanças só acontecerão quando o ambiente escolar começar a trabalhar a desconstrução do machismo.
“Essas barreiras estão sendo quebradas pelas novas gerações. Por conta da internet, que tem gerado grandes mobilizações. As meninas se defendem nesse espaço e as novas gerações são muito atentas a essas denúncias”, afirmou Heloísa Buarque de Hollanda.
O movimento feminista tem ganhado notoriedade e força entre as mulheres mais jovens. Grande parte da mobilização feita por elas ocorre por meio das redes sociais.
Para a professora Susana Funck, os caminhos abertos pelas novas feministas permitem que muitas barreiras sejam quebradas. “As jovens são muito mais eficazes, porque vão as ruas, usam as redes sociais e são mais abertas socialmente, porque a opressão da mulher está muito ligada a outras opressões”, avaliou.
Os recursos foram muito popularizados em campanhas encabeçadas por esses grupos contra o assédio com hashtags como #MeuPrimeiroAssédio, #MeuAmigoSecreto ou o #NenhumaAMenos, que surgiu na Argentina, após estupro e assassinato de uma adolescente.
De acordo com Jacira Melo, essa luta é fundamental para que o Brasil perceba a desigualdade e para que isso se reverta na garantia dos direitos. “Essas diferenças prejudicam a ascensão das mulheres na sociedade. Mas ao mesmo tempo tem um papel fundamental para a formulação de políticas públicas para as mulheres”, disse.