A pandemia da COVID-19 está desafiando os sistemas de saúde em todo o mundo. Como resultado, muitas pessoas estão encontrando ainda mais dificuldades para acessar aos métodos de contracepção e interrupção da gravidez.
(Anistia Internacional, 24/04/2020 – acesse no site de origem)
Uma crise de saúde nessa escala significa que os governos estão tendo que tomar decisões difíceis sobre onde direcionar recursos limitados de saúde. Em alguns países, como Nepal e África do Sul, as instituições médicas onde se realizam abortos e contracepção já foram forçadas a reduzir ou suspender seus serviços.
Mesmo onde essas assistências permanecem abertas, restrições de viagens, medidas de distanciamento social, perda de empregos e escassez de medicamentos estão criando novas barreiras ao acesso.
Aqui estão cinco razões pelas quais os serviços de saúde sexual e reprodutiva precisam permanecer disponíveis e acessíveis – durante e além da pandemia.
1. Esses serviços salvam vidas todos os dias
No mundo, uma em cada quatro gestações termina em aborto. Mas leis restritivas significam que nem todas as pessoas são capazes de acessar esse procedimento com segurança. Todos os anos, cerca de 22 mil mulheres e pessoas capazes de gestar morrem de abortos inseguros.
As evidências mostram que quando as mulheres têm acesso negado à contracepção e ao aborto seguro, as taxas de mortalidade materna aumentam. Isso inclui pessoas que morrem durante o parto e que morrem porque são forçadas a procurar abortos inseguros.
A Marie Stopes International (MSI), uma ONG que fornece serviços de contracepção e aborto em 37 países ao redor do mundo, alertou que a COVID-19 poderia ter um impacto devastador na saúde materna.
A organização estima que, nos 37 países em que trabalha, as interrupções de serviços por conta da COVID-19 podem levar a mais 3 milhões de gravidezes indesejadas, 2,7 milhões de abortos inseguros a mais e 11 mil mortes adicionais relacionadas à gravidez.
2. Em tempos de crise, há uma demanda ainda maior
Em outras pandemias e epidemias, os recursos foram desproporcionalmente desviados dos programas de saúde reprodutiva, resultando em um aumento significativo nas mortes maternas.
Durante a crise do Ebola na África Ocidental, por exemplo, pesquisas mostram que o progresso no combate à mortalidade materna recuou 15 ou 20 anos em alguns países.
Na Serra Leoa, estima-se que o acesso reduzido aos cuidados de saúde reprodutiva tenha causado pelo menos tantas mortes quanto o próprio Ebola. Na época, mulheres e meninas precisavam mais que nunca acessar serviços que podiam salvar suas vidas e estavam impossibilitadas. Houve um forte aumento da violência sexual durante a crise do Ebola, enquanto o fechamento das escolas contribuiu para o aumento da gravidez na adolescência.
É provável que essas tendências sejam repetidas durante a pandemia da COVID-19. O isolamento forçado do domicílio pode aumentar a incidência de violência sexual; mais mulheres podem optar por terminar a gravidez devido a problemas econômicos ou de saúde, e a demanda por contracepção pode aumentar à medida que as pessoas adiam planos de ter filhos.
3. A restrição de serviços prejudicará mais os sistemas de saúde a longo prazo
Um modelo econômico estima que cada US$ 1 gasto na prevenção de gravidez indesejada reduz o custo dos cuidados relacionados à gravidez em US$ 2,20. Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o custo anual do tratamento de grandes complicações decorrentes do aborto inseguro é de US$ 553 milhões.
Não é apenas a saúde das pessoas que sofre quando o aborto e a contracepção são restritos ou estão fora de alcance. Se mulheres, meninas e pessoas que podem gestar não podem escolher quando têm filhos, geralmente também não conseguem acessar educação de qualidade ou ter uma carreira e poder lutar para sustentar famílias numerosas.
A contracepção muda vidas, empoderando mulheres e meninas a tomar decisões sobre seus próprios futuros. O empoderamento impulsiona o desenvolvimento social e econômico, o que ajudará as pessoas a acessar seus direitos e reduzir a carga sobre os sistemas de saúde.
4. Precisamos proteger anos de progresso conquistado com muito esforço em direitos reprodutivos
Entre 2000 e 2017, a taxa de mortalidade materna caiu cerca de 38% em todo o mundo. Nos últimos 25 anos, mais de 50 países mudaram suas leis para permitir maior acesso ao aborto e aos cuidados pós-aborto, reconhecendo o papel vital que o acesso ao aborto seguro desempenha na proteção da vida e da saúde das mulheres. É essencial que o novo coronavírus não desfaça esse progresso.
Há também o risco de que os legisladores contra o direito de escolha das mulheres sobre seus próprios corpos usem a pandemia como uma desculpa para reverter direitos reprodutivos conquistados com muito esforço. Já vimos isso nos estados do Texas e Ohio, nos EUA, e tentativas semelhantes na Polônia.
5. Existem soluções para os desafios colocados pela COVID-19
O aborto e a contracepção não podem ser adiados. É por isso que é tão importante que os governos ajam agora para apoiar esse tipo de assistência médica.
Desde permitir que o aborto e a contracepção sejam acessados por telemedicina, permitindo que as farmácias vendam contracepção de emergência sem receita médica e retirando tempos de espera e requisitos de autorização desnecessários por vários médicos, existem várias maneiras pelas quais os governos podem proteger e garantir esses cuidados de saúde essenciais e torná-los acessíveis às pessoas quem precisa.
Quanto mais cedo agirem, mais vidas serão salvas.