(O Globo| 30/03/2021 | Por William Helal Filho)
Eliane de Grammont tinha 26 anos, era mãe de uma menina de 1 ano e 8 meses e tentava retomar a carreira de cantora de MPB após terminar um relacionamento abusivo. Ela vinha fazendo shows na boate Belle Époque, em São Paulo, ao lado do músico Carlos Randall, que a acompanhava tocando o violão. Na madrugada de 30 de março de 1981, há 40 anos, durante uma apresentação na casa noturna, ela cantava uma versão do clássico “João e Maria”, de Chico Buarque, quando seu ex-marido entrou no salão descarregando um revólver calibre 38.
A paulistana conhecera Lindomar Castilho em 1977, nos corredores da gravadora RCA, no Rio. Chamado de Rei do Bolero, autor de sucessos como “Você é doida demais” e “Eu amo a sua mãe”, o cantor nascido em Santa Helena, no interior de Goiás, foi um dos maiores vendedores de discos do Brasil naquela década. Ele e ela se apaixonaram e, quando se casaram, em 1978, Eliane já tinha seis meses de gravidez. Descrito como homem agressivo e muito ciumento, cerca de 15 anos mais velho, Lindomar logo exigiu que a mulher abandonasse a carreira, e, por um período, a artista ficou longe da música. Mas a violência e o alcoolismo do marido tornaram a relação insustentável e, após um ano de união, ela pediu o divórcio.
A mulher não demorou a procurar os palcos e foi convidada a se apresentar na Belle Époque. Eliane cantava Chico, Elis Regina e outras vozes da MPB, além de músicas escritas por sua mãe. Meses após a separação, naquela madrugada de segunda-feira, Eliane cantava os versos “Agora era fatal/Que o faz-de-conta terminasse assim”, de “João e Maria”, quando Lindomar entrou e começou a atirar. Na delegacia, o dono da boate, William Schmidt, disse que o artista efetuou pelo menos cinco disparos. Sem chance de se proteger, Eliane foi baleada no peito, enquanto Randall, mesmo ferido por um tiro, atracou-se com o assassino e teve ajuda de Schmidt para amarrá-lo. A cantora foi socorrida, mas morreu a caminho do hospital.