(Celina – O Globo | 28/05/2021 | Por Leda Antunes)
Apesar de serem considerados essenciais, os serviços de planejamento familiar e contracepção foram impactados pela pandemia. A crise sanitária, que sobrecarregou todo o sistema de saúde brasileiro, fez com que a oferta de dispositivos intra-uterinos (DIU) e laqueaduras tubárias pelo SUS recuasse mais de 40% em 2020, em comparação ao ano anterior.
Segundo dados obtidos pela reportagem via DataSUS, plataforma que sistematiza as informações da saúde pública, foram realizados 28.980 atendimentos para inserção de DIUs de cobre (o único ofertado pelo SUS) em 2020, um número 43% menor ao registrado no ano anterior, quando foram notificados 50.545 atendimentos do mesmo tipo. Os serviços de esterilização também foram impactados: o número de laqueaduras recuou 46% e o de vasectomias, 51%. Considerando apenas as laqueaduras que não são feitas junto com partos cesária, foram 22.865 procedimentos em 2020, contra 42.400 em 2019. As vasectomias caíram de 18.657 para 9.144 na mesma comparação.
— Apesar de ser considerado essencial, na prática, o planejamento familiar não foi tratado dessa forma. Era natural que tivesse uma situação piorada com a pandemia, porque foi preciso mobilizar os profissionais de saúde para o atendimento de Covid-19 e há um déficit crônico nesses serviços. Diversos centros conseguiram se organizar para não fechar, mas o atendimento foi reduzido — explica a ginecologista Ilza Maria Urbano Monteiro, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Em 2020 também foi verificada uma queda de 17% no gasto do Ministério da Saúde com insumos contraceptivos, segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. O orçamento menor, no entanto, não significa necessariamente que houve impacto na distribuição de contraceptivos, pois a demanda pode ter sido suprida por estoques dos insumos comprados em anos anteriores.