Temos de pensar nas crianças que tiveram suas mães assassinadas e continuam sofrendo diariamente
(Folha de São Paulo | 29/07/2021 | Por Djamila Ribeiro)
Neste mês de julho, fizemos homenagens devidas a mulheres que, apesar do Brasil, abriram caminhos em suas áreas. Depois de tanta festa, gostaria de honrar um outro legado de mulheres pretas, o da denúncia, jogando luz sobre um tema fundamental para o país —o dos órfãos do feminicídio.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2020 houve um aumento de 7% na taxa de feminicídios —dessas mulheres, 66% são negras. O Brasil é o quinto país em número de assassinato de mulheres.
Os movimentos feministas e diversas organizações vêm historicamente denunciando e reivindicando políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher. Mas uma questão fundamental é pensar nos órfãos do feminicídio, nas crianças que perdem suas mães e seguem violentadas pelo Estado.
Em uma reportagem de Adriana Pimentel para a agência de notícias cearense Eco Nordeste, encontrei importantes referências sobre o tema. Na entrevista, Pimentel ouviu José Raimundo Carvalho, professor da Universidade Federal do Ceará e coordenador da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, desenvolvida em parceria com o Instituto Maria da Penha, que ouviu 10 mil mulheres desde 2016.
As conclusões preliminares dão conta de como o assunto é pouco denunciado e estudado. Segundo Carvalho, é “o único projeto, até hoje, que começou a mapear os órfãos do feminícido no Brasil”. “Por incrível que pareça, não existe nenhuma base de dados, nenhuma política pública para os órfãos do feminicídio, e isso é um absurdo porque a orfandade é uma coisa horrível.”
Djamila Ribeiro
Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.