No mês de agosto, aclamam a conquista da lei Maria da Penha, usam a sua imagem, mas apagam, literalmente, a sua cadeira
(Brasil de Fato | 25/08/2021 | Por Viviane Sarmento)
Muitos paralelos existem entre os significados sociais atribuídos aos corpos femininos e os corpos com deficiência. Tanto o corpo feminino quanto o das pessoas com deficiência são considerados historicamente desviantes e inferiores; ambos são definidos a partir de uma lógica social, cultural e econômica e, por isso, categorizados a partir de uma norma.
Entretanto, a discursiva equação que desvincula o feminino da deficiência nunca deixou de ser comum. Tais nexos estão alicerçados na ideia socialmente naturalizada da deficiência como um corpo biológico disfuncional e socialmente invalidado. Essa construção tem consequências graves e diárias, implícitas e explícitas.
Um exemplo são as perguntas constantes sobre a sexualidade da mulher com deficiência: ela transa, sente prazer, fica grávida, alguém pode amá-la, é lésbica? Ou ainda, as dúvidas onipresentes sobre a possibilidade de uma vida com deficiência gerar ou cuidar de outrem, as quais respaldadas no argumento eugênico de um trabalho de tratamento bioético social, esterilizam essas mulheres.
Esses exemplos ilustram o fato de que tudo que se refere à essencialização do feminino, mas se choca com a realidade de mulheres com deficiência, coaduna-se proporcionalmente com um julgamento de “impossibilidade social de existência”. Isto porque rompe com o ideário de corpo e indica a representação do oposto ao empregado pelo autogoverno, autodeterminação, autonomia e progresso fundantes na ideologia neoliberal.
Viviane Sarmento é doutora em Educação pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Professora Adjunta da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), pesquisadora sobre os significados sociais da deficiência e militante pelos Direitos da pessoa com deficiência e pela Marcha Mundial Mulheres (MMM).