Relatos lembram desde convites para se colocar no lugar do agressor e refletir sobre o que causou a violência até dramatização do conflito em um auditório com mais de 50 pessoas
(O Globo | 04/09/2021 | Por Bianca Gomes)
SÃO PAULO – Quando foi ao tribunal participar de uma sessão de constelação familiar, a universitária A., de 22 anos, reviveu a violência que buscava esquecer e punir ao buscar a Justiça. Em uma sala, a jovem foi levada a relembrar as agressões sofridas no relacionamento com o ex-marido. Também foi coagida pelo mediador a pedir desculpas para o ex, que a agrediu ainda grávida e, depois, com o filho pequeno.
Relatos como o da jovem (o nome foi preservado para não comprometer o processo) têm se repetido no país nos últimos meses. Tribunais têm usado a técnica de constelação familiar, desenvolvida na Alemanha como um método terapêutico para solução de conflitos por meio de uma encenação, em processos da Vara da Família que envolvem denúncias de violência, o que constrange as vítimas.
A técnica passou a ser adotada em tribunais em 2012, com aval de resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que incentiva o uso de saídas extrajudiciais para desafogar o Judiciário. Apesar de a aplicação ocorrer majoritariamente em processos de guarda ou pensão alimentícia, os casos que têm gerado reclamações são de mulheres que também estão processando seus ex-maridos por agressão, e por isso a violência é abordada pelos mediadores.
Nos relatos feitos à reportagem, há desde convites para se colocar no lugar do agressor e refletir sobre o que causou a violência até uma dramatização do conflito em um auditório com mais de 50 pessoas. No último caso, desconhecidos são convidados a interpretar os envolvidos no processo.
— Os mediadores me colocaram para pedir perdão a ele (ex-marido) porque seria bom para mim. Me recusei, pois eu sou a vítima de violência, não ele. A partir daí fui colocada como louca. Me senti completamente sozinha, humilhada e desesperada — disse A..