(Universa | 24/09/2021 | Por Luiza Souto)
Só essa semana, o machismo na política foi assunto no Brasil duas vezes: na última terça-feira, Wagner Rosário, ministro da CGU, chamou a senadora Simone Tebet de “descontrolada” durante a CPI da Covid. No dia anterior, o ator José de Abreu, repostou um tuíte que dizia ter “vontade de dar soco” na deputada Tabata Amaral. Mas, segundo a deputada federal Marília Arraes (PT-PE), reações misóginas fazem parte da vida das mulheres na política desde sempre. “A violência de gênero vem desde Cleópatra. Fazem isso quando mulheres atingem certo patamar de liderança”, afirma, citando a monarca do antigo Egito, em conversa por vídeo com Universa.
Aos 37 anos e há 14 na política, três vezes eleita vereadora em Recife e no primeiro mandato como deputada federal, Marília diz acumular inúmeros ataques misóginos. Os últimos aconteceram nas eleições do ano passado, quando disputou a prefeitura da capital com João Campos (PSB), 27, filho de seu primo Eduardo Campos. Durante a campanha, foi chamada pelo adversário de arrogante a anticristã. “Não tenho relação familiar [com João Campos] há muitos anos, e não é um primo legítimo. Gostam de fazer sensacionalismo com parentesco”, ela afirma. Marília foi derrotada por 52,27% dos votos válidos ante seus 43,73%.
Os laços ficaram estremecidos de vez em 2014, quando Marília, ainda no PSB, apoiou a reeleição de Dilma Rousseff (PT) em detrimento de Eduardo Campos – que morreu em um acidente aéreo ainda durante a campanha. Além das inúmeras críticas e ameaça de expulsão da legenda, criada pelo avô, o ex-governador Miguel Arraes, teve o nome dado a uma cachorra achada na rua por militantes do partido. E viu os muros da cidade, incluindo o da casa da avó materna, pichados com xingamentos como “traidora”.