Um bate-papo com a delegada que investiga casos escabrosos de violência contra crianças: ‘É difícil dormir’

19 de setembro, 2016

Se você às vezes tem dificuldade para dormir por causa de problemas e preocupações no trabalho, imagine a delegada Cristiana Bento, da Decav (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima). Ela investiga alguns dos mais escabrosos crimes dos últimos tempos, como o caso da coronel reformado da PM acusado de ter abusado de uma menina de dois anos, em Bonsucesso, e o estupro coletivo de uma jovem de 16 anos. Cristiana conversou com Fernanda Pontes.

(O Globo, 19/09/2016 – acesse no site de origem)

Qual foi o pior caso que a senhora já investigou?

São todos muito ruins, mas um em especial me impressionou. Era um pai que abusava da filha de 15 anos. A mãe desconfiava que o marido tinha uma amante e colocou um gravador no carro. Foi quando descobriu tudo. A filha era abusada desde os 9 anos. Quando ouvi o áudio, fiquei muito impressionada.

O pedófilo tem um perfil específico?

Sim. Eles são articulados, costumam ser educados e gentis. Pessoas que você jamais diria que são capazes de fazer o que fazem. Por isso, sempre digo aos pais que tenham muito cuidado com quem vão deixar seus filhos.

E a vítima?

A vítima muitas vezes é a criança pequena, que ainda não fala. O pedófilo pensa em todos os detalhes para não deixar rastro algum.

Você não tem dificuldade para dormir quando cuida de casos como esses?

Às vezes durmo mal. Mas, dentro do possível, a gente se acostuma. Trabalho com isso há muito tempo.

Jovens vítimas de violência sexual chegam a ser “acusadas” de provocar o crime por usar roupas justas ou curtas. Já ouviu comentários assim?

Sim, já ouvi. Só faço uma pergunta. ‘E se fosse com a sua filha?’.

Fernanda Pontes

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