Em seis anos, 6.393 mulheres morreram, apesar de já terem procurado atendimento na rede pública por agressão em outras ocasiões – uma média de três mortes por dia.
(Jornal Nacional, 08/01/2019 – acesse no site de origem)
O número de denúncias de violência contra mulheres aumentou quase 30% no ano passado. E a primeira semana de 2019 mostra um quadro assustador.
Solange Gomes, de 36 anos, morreu na madrugada desta terça-feira (8). Ela estava internada em Tangará da Serra, Mato Grosso, ferida no pescoço pelo marido com um canivete, na noite de Natal.
No Distrito Federal, a primeira vítima de feminicídio do ano foi Vanilma Martins dos Santos, de 30 anos, esfaqueada pelo homem com quem viveu por uma década. No fim de semana, Thiago de Souza Joaquim, de 33 anos, chegou em casa bêbado, discutiu e agrediu a mulher. A deixou ferida no hospital, fugiu, mas acabou sendo preso.
Perto de Indaiatuba, interior de São Paulo, depois de uma denúncia, a polícia encontrou, na beira de uma rodovia, Edivaldo da Silva, o homem que matou com 20 facadas a ex-mulher com quem teve quatro filhos. Ele disse à polícia que estava bêbado e agiu por ciúme.
São apenas algumas histórias de uma rotina de violência pelo Brasil.
As denúncias de agressão dispararam. Em 2018, foram mais de 92 mil ligações para a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – o Disque 180.
O balanço publicado pelo jornal “Correio Braziliense” mostrou também que só, em dezembro, 391 mulheres foram agredidas por dia e foram registradas 974 tentativas de feminicídio – um aumento de 78% em relação ao mesmo período do ano passado.
A covardia contra a mulher pode ser ainda maior porque muitas nem chegam a denunciar os companheiros ou ex-companheiros. Em muitos casos, o femincídio não pode sequer ser considerado uma surpresa: a cada dez mulheres mortas, três já tinham sido agredidas antes. A informação foi publicada nesta terça-feira (9) no jornal “O Estado de S.Paulo”.
O estudo do Ministério da Saúde cruzou os registros de mortes com os de atendimentos na rede pública entre 2011 e 2016 e revelou que, em seis anos, 6.393 mulheres morreram, apesar de já terem procurado ajuda em outras ocasiões.
“A Lei do Feminicídio, que é de 2015, é um grande avanço, grande conquista do movimento de mulheres e é instrumento muito importante para enfrentar a questão da violência contra a mulher. Agora, a lei por si só não muda condutas. A educação é o instrumento mais transformador que a gente tem pra mudar essa realidade. Um adolescente de 17 anos não pode achar que ele pode matar a namorada de 14 porque ela o contrariou”, afirma Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, menos de 10% das cidades do país têm delegacias especializadas no atendimento a mulheres.
Como no Recanto das Emas, cidade a 30 quilômetros de Brasília, onde uma mulher se escondeu numa mata com o filho para fugir do marido. Ao ser encontrada pela polícia, disse que estava com medo de ser morta pelo companheiro. O agressor, de 51 anos vai responder por ameaça e lesão corporal.