Encontro virtual aconteceu nesta segunda, 25 de julho, no canal da ONU Brasil no YouTube, com a presença de representantes das Nações Unidas e de mulheres que são referência em seus papéis de liderança em organizações de mulheres negras
(ONU Mulheres) Na tarde desta segunda (25), representantes do Sistema ONU e mulheres negras que se destacam por seus papéis relevantes como intelectuais e ativistas pelos direitos humanos da população negra se reuniram em uma sessão virtual organizada pela ONU Brasil e o Instituto Afrolatinas. Transmitido no canal da ONU Brasil no YouTube, o evento marcou o encerramento do Latinidades, o maior festival de mulheres negras da América Latina, que neste ano comemorou 15 anos com o tema “Mulheres negras – todas as alternativas passam por nós”.
O encontro celebrou também os 30 anos do Dia Internacional da Mulher Afro-latino-americana, Afro-caribenha e da Diáspora, comemorado todo 25 de julho, e da criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas, Afro-caribenhas e da Diáspora (RMAAD), reunindo Paola Yanez (Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas, Afro-Caribenhas e da Diáspora); Lúcia Xavier (Criola); Nilza Iraci (Geledés – Instituto da Mulher Negra); Silvia Rucks (coordenadora residente do Sistema ONU no Brasil); Jaqueline Fernandes (Instituto Afrolatinas) e Catherine S. Namakula (presidente do Grupo de Trabalho da ONU de Especialistas sobre Afrodescendentes).
Coordenadora residente das Nações Unidas no Brasil, Silvia Rucks destacou que nas conferências de Cairo, de Pequim e de Durban, na adoção da Década Internacional de Afrodescendentes e nas discussões que culminaram na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, mulheres negras chamaram a atenção do mundo para os desafios que enfrentam. “Sua mobilização levou para o centro das discussões a constatação de que a sobreposição e a intersecção da discriminação racial e de gênero impactam de forma mais severa esse grupo de mulheres. Elas têm lutado, têm nos ensinado e têm mobilizado a comunidade internacional em torno de um objetivo comum: realizar os direitos humanos de todas as pessoas e alcançar o desenvolvimento sustentável”, observou. A coordenadora residente também reforçou o compromisso das Nações Unidas com a realização dos direitos humanos das mulheres negras, sem deixar ninguém para trás.
Presidente do Grupo de Trabalho da ONU de Especialistas sobre Afrodescendentes, Catherine S. Namakula, relembrou que esses impactos são observados em toda a região. “As visitas do Grupo de Trabalho ao Brasil em 2013 e ao Panamá no mesmo ano, à Guiana em 2017, ao Equador em 2019 e ao Peru em 2020, nos deram uma visão sobre a discriminação interseccional enfrentada pelas mulheres nos respectivos países com base em seu gênero e etnia”, destacou Namakula. A presidente destacou a importância do diálogo e da atuação conjunta para superar barreiras, romper com violações de direitos e criar uma cultura de justiça e equidade para todas e todos.
Coordenadora geral da RMAAD, Paola Yañez lembra os efeitos desta articulação. “Como resultado deste importante trabalho realizado por mulheres afrodescendentes, as questões de gênero e étnico-raciais foram incluídas em fóruns e órgãos intergovernamentais, tanto a nível regional como sub-regional, mostrando avanços substantivos na agenda regional de gênero, onde não só temos participado, mas temos sido protagonistas e impulsionadoras destas mudanças que ocorreram”, lembrou.
Com o objetivo de consolidar recomendações no marco dos compromissos normativos assumidos desde o estabelecimento do Dia da Mulher Afro-latinoamericana, Afro-caribenha e da Diáspora e da criação da RMAAD, destacando as contribuições das mulheres africanas e afrodescendentes para o desenvolvimento sustentável e a recuperação dos efeitos da pandemia de COVID-19, a mesa temática contou com uma importante contribuição da coordenadora geral da ONG Criola, Lúcia Xavier, sobre o tema. “Queremos viver no futuro. Ele é um processo constituído no contexto da nossa experiência social, de acolher, proteger e enfrentar todas as formas de discriminação que vivem mulheres e as nossas comunidades. Neste 25 de julho, queremos também não só celebrar o que vencemos, o que ganhamos, o que conquistamos, mas também afirmar os nossos direitos como direitos humanos, afirmar a nossa liberdade e a nossa dignidade como fundamental para a melhoria da democracia, para a melhoria das condições de vida e, sobretudo, para a nossa liberdade”, reforçou.
Coordenadora de advocacy e incidência política do Geledés, Nilza Iraci comentou que o que melhor define o movimento de mulheres negras hoje é a pluralidade de vozes representadas, com espaço para as “cisgêneras e as trans; as héteras, as lésbicas e as bis; as organizadas e as autônomas; as jovens e adultas, as religiosas e as ateias, as do campo, da cidade, das águas e das florestas”. A ativista lembrou que ainda são muitos os desafios enfrentados por esses grupos. “Apesar de alguns poucos avanços das lutas e de o movimento de mulheres negras estar sendo considerado o mais potente das últimas décadas, sabemos que estamos muito longe das conquistas que reivindicamos”, pontuou.
Presidenta do Instituto Afrolatinas e idealizadora e coordenadora geral do Festival Latinidades, Jaqueline Fernandes falou sobre a importância do dia 25 de julho como uma data de reivindicações, “enquanto tivermos reivindicações a serem feitas”. “Ao mesmo tempo será sempre uma data também de celebração dos nossos potenciais, um grande marco do que nós, as mulheres negras, podemos articular e articulamos de contribuição para a sociedade. O nosso projeto [Latinidades] existe para dizer que nós, mulheres negras, somos potentes e que nós temos vários projetos de mundo para sociedade, nós temos várias utopias e as nossas utopias são válidas. Que as nossas utopias serão verdade e que nós temos muito a honrar, porque as mulheres que vieram antes de nós nos trouxeram até aqui”, complementou.
A sessão virtual está disponível no canal da ONU Brasil no YouTube.