“Uma tentativa de manter o status quo”, declara especialista em gênero e Internet sobre ataques ao Grupo Mulheres contra Bolsonaro

19 de setembro, 2018

O grupo ‘Mulheres Unidas contra Bolsonaro’, que em cerca de 24 horas já reunia 1 milhão de participantes no Facebook, sofreu diversos ataques na última semana. A própria página do grupo foi hackeada e chegou a ficar fora do ar, seu nome foi alterado e as contas das criadoras invadidas por pessoas a favor do candidato.

(Agência Patrícia Galvão, 19/09/2018)

Após uma investigação da rede social, algumas horas depois o controle do grupo já havia sido devolvido a suas idealizadoras. Além da ofensiva contra o grupo, algumas de suas administradoras tiveram seus dados pessoais roubados e suas contas no Facebook invadidas com mensagens de ódio.

Leia mais: Ataque a grupo de mulheres contra Bolsonaro pode indicar crime eleitoral (CartaCapital, 18/09/2018)

Mulheres são as maiores vítimas de violência na internet

Segundo relatório da SaferNet, as mulheres são maioria nos atendimentos da Helpline da instituição e entre os 5 principais tópicos nos atendimentos, 3 envolvem violações com raízes discriminatórias.

As mulheres representam 67,4% dos atendimentos por cyberbullying e ofensa na rede, ainda segundo a Safernet e, em 61% das vezes em que houve um debate ou discussão na internet sobre violência de gênero, os homens agiram de maneira agressiva e desqualificadora, como mostra a pesquisa do Instituto Avon com a Folks Netnográfica.

Para a advogada e doutora em Sociologia Jurídica Mariana Valente, especialista em violência de gênero na internet, esse crescimento acontece porque “estamos vivendo um momento tanto de intensificação de discursos e crescimento de grupos conservadores quanto de intensa polarização política. Em especial, nestas eleições, temos no centro da disputa um candidato que mobiliza o ódio e age na vulgarização de demandas de igualdade por grupos sociais minorizados, o que deixa o ambiente político como um todo mais armado”.

Mariana completa ainda que, apesar de não ser possível afirmar que esses ataques acontecem por motivação de gênero, pesquisas na área e a nossa história como sociedade nos mostram que as mulheres são muito mais vulneráveis a ataques – e em especial as mulheres que são comunicadoras, que se expressam politicamente.

“Ataques desse tipo não são uma quebra do status quo, mas uma tentativa de mantê-lo – uma espécie de ‘coloque-se no seu lugar’”, finaliza a advogada Mariana Valente.

Por Tainah Fernandes

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