(O Globo, 19/09/2014) Mario Giani Monteiro aponta que condições socioeconômicas influenciam na mortalidade em entrevista ao Globo.
O GLOBO: No Brasil, as internações por aborto vem diminuindo na maior parte das faixas etárias ao longo dos últimos anos. O que isso indica?
Houve uma redução no número de abortos espontâneos devido a melhoria de qualidade e cobertura da atenção pré-natal do SUS. Aumentou a escolaridade das mulheres e a cobertura da utilização de medidas contraceptivas de 2001 a 2010. Além disso, as mulheres começaram a fazer uso intenso do Cytotec. Apesar da proibição, houve disseminação grande sobre a maneira correta de utilizar essa droga, o que diminuiu o número de complicações pós-aborto e a necessidade de internação.
Qual a implicação do aborto ser proibido na maior parte dos casos no Brasil?
As instituições e estabelecimentos públicos e privados estão proibidos de fornecer atenção médica e hospitalar em ambiente seguro. Com isso, mulheres, sobretudo sem recursos financeiros, recorrem a práticas de alto risco.
Como você vê a criminalização das mulheres que abortam?
A criminalização do aborto induzido, além de absurda, é uma lei cruel, baseada em preconceitos éticos e religiosos que não respeita o direto humano de escolha das mulheres e as condena a riscos de complicações pós-aborto inseguro.
É possível estimar a taxa de mortalidade entre as mulheres que fazem aborto em condições seguras e as que fazem aborto inseguro?
Não. Mas fizemos trabalhos que mostram que as condições socioeconômicas influem na mortalidade materna. Por exemplo, mulheres negras têm risco 2,5 vezes maior que as mulheres brancas na razão de mortalidade materna em consequência de gravidez que termina em aborto.
Carolina Oliveira Castro, Dandara Tinoco e Vera Araújo
Acesse o PDF: Médico diz que mulheres negras correm risco maior do que brancas no pós-aborto (O Globo, 19/09/2014)