(Folha de S.Paulo, 22/03/2016) As zonas afetadas pelo vírus da zika têm que aumentar a luta de combate ao mosquito Aedes aegypti.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) afirma que os métodos tradicionais de combate ao mosquito, como a aplicação de inseticidas, não estão se mostrado eficazes até o momento.
Segundo documento do órgão, o problema não são os métodos em si, mas, sim, a sua aplicação. “O controle do vetor é a maneira mais eficiente para parar a transmissão do vírus da zika, da dengue, da febre chikungunya e da febre amarela, doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Se os métodos atuais forem implementados corretamente –de maneira rápida, abrangente e sustentada– eles são eficientes”, argumenta a OMS.
Na ausência de uma vacina em um horizonte próximo, a organização continua a defender a prevenção. A eliminação de focos de larvas do mosquito, uso de repelentes que contenham DEET, IR 3535 ou Icaridina, o uso de roupas compridas e a pulverização de inseticidas devem ser prioritários. A OMS faz a ressalva, no entanto, que o fumacê, muito utilizado no Brasil, é menos eficaz que a aplicação de inseticidas em espaços fechados
Em entrevista coletiva nesta terça-feira (22), em Genebra, Anthony Costello, diretor do Departamento de Saúde infantil, materna e de adolescentes da OMS, afirmou que, dos 2.212 casos suspeitos de microcefalia investigados pelas autoridades sanitárias brasileiras, 863 foram confirmados.
Se essa proporção de 39% de casos confirmados for mantida, o Brasil pode registrar 2.500 bebês com microcefalia. A estimativa foi revelada durante entrevista coletiva na sede da organização em Genebra. O Brasil pode registrar 2.500 casos de microcefalia ligadas à contaminação pelo vírus da zika nos próximos meses.
Embora a OMS ainda não tenha uma prova definitiva da relação entre a contaminação pelo vírus da zika em gestantes e o nascimento de bebês com perímetro craniano abaixo do normal, Costello afirma que “existe um consenso científico cada vez maior” sobre a associação entre zika e microcefalia. A cautela da OMS em relação a dados sobre o surto de zika também vale para estudos publicados recentemente por outras instituições.
O Instituto Pasteur, na França, divulgou que, nos casos de infecção pelo vírus da zika no primeiro trimestre da gravidez, o risco da ocorrência de microcefalia é de aproximadamente 1%. A conclusão foi feita a partir do monitoramento de um surto de zika na Polinésia Francesa entre 2013 e 2014. Para OMS, esses dados são relevantes, mas ainda não se pode dizer se essa também será a realidade no Brasil.
NOVAS TÉCNICAS
Duas novas técnicas de controle da população de Aedes aegypti estão em estudo por especialistas ligados à OMS: mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia e mosquitos modificados geneticamente. As duas medidas inibem a propagação dos insetos mas, de acordo com a organização, ainda é preciso um monitoramento “rigoroso é independente” do resultado dessas ações.
Quanto à esterilização dos mosquitos, o uso de armadilhas e de um açúcar tóxico que atrai e mata o Aedes aegypti, o grupo de especialistas no controle de vetores concluiu que ainda é preciso mais evidências cientificas sobre a eficácia desses métodos.
Apenas no continente americano, 4 milhões de pessoas devem ser infectadas neste ano, estima a OMS. Para ajudar no combate e na prevenção da doença, a organização precisa de US$ 56 milhões (R$ 200 milhões). Desse total, porém, apenas US$ 3 milhões (R$ 10 milhões) chegaram às mãos da instituição.
“O apoio financeiro é um grande desafio”, declarou Margaret Chan, diretora-geral da OMS. “Não podemos permitir que o dinheiro seja uma barreira que nos impeça de fazer a coisa certa. As consequências para a saúde pública de vários países e para muitas famílias são imensas”, concluiu.
Cíntia Cardoso
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