(O Estado de S. Paulo, 12/03/2016) Exames sorológicos realizados no Instituto de Ciências Biomédicas da USP mostram que mães de crianças com microcefalia no Estado foram infectadas pelo vírus da zika. É a primeira vez que a presença do vírus é confirmada por exames laboratoriais em Sergipe.
Acabou o mistério: Análises realizadas em amostras de sangue de mulheres que deram à luz crianças com microcefalia em Sergipe confirmam que elas foram infectadas pelo vírus da zika. É a primeira vez que a presença do vírus é confirmada no Estado por exames laboratoriais, apesar de a epidemia já estar em curso no Nordeste há pelo menos seis meses.
O anúncio foi feito ontem pela Secretaria de Estado da Saúde, com base em resultados produzidos pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo. Até então, a ausência de casos confirmados de zika em Sergipe era um mistério para os cientistas, visto que o Estado tem o maior número de casos de microcefalia do País (201), proporcionalmente ao tamanho de sua população.
Essa foi uma das razões que levou uma equipe de pesquisadores paulistas a visitar o Estado no mês passado. Dezenas de amostras de sangue, urina e saliva de pessoas com suspeita de infecção foram colhidas para análise — entre elas, oito mães e oito crianças nascidas com microcefalia no município de Itabaiana, a 55 km da capital Sergipe. (Leia reportagem sobre esses casos aqui: http://goo.gl/HHBsqs)
Os resultados divulgados ontem referem-se a esses 16 casos de Itabaiana: Sete das oito mães e cinco das oito crianças testaram positivo para infecção por zika vírus. As análises realizadas foram do tipo sorológico (método ELISA), capaz de detectar a presença de anticorpos específicos para o vírus da zika na corrente sanguínea. Assim, é possível saber se a pessoa foi infectada pelo vírus em algum momento, mesmo que ele já tenha desaparecido do organismo.
Leia reportagem especial sobre o trabalho dos cientistas paulistas em Sergipe: No front da microcefalia, pesquisadores encontram uma “sopa de vírus”
Os exames foram realizados no Laboratório de Evolução Molecular e Bioinformática do Departamento de Microbiologia do ICB-USP, com base em uma metodologia experimental desenvolvida no próprio instituto. O trabalho faz parte da chamada Rede Zika, uma força-tarefa de laboratórios paulistas apoiada pela Fapesp, e está sendo desenvolvido em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) de Sergipe.
Outras dezenas de casos suspeitos estão sendo avaliados. A confirmação de que essas mães e seus bebês foram infectados pelo zika não prova uma relação causal única entre o vírus e a microcefalia, mas é mais uma forte evidência de que há uma associação entre o patógeno e a ocorrência de malformações congênitas.
Veja vídeo da reportagem aqui: http://goo.gl/8zHP3m
Acesse o PDF: Zika e microcefalia: O mistério de Sergipe – resolvido, por Herton Escobar (O Estado de S. Paulo, 12/03/2016)