(Folha de S. Paulo, 04/03/2015) Cada uma a sua maneira, Rosângela e Lurdinha eram mais que feministas históricas: lutavam por um país sem preconceitos e discriminações e pelos direitos humanos também de homossexuais, indígenas, crianças, idosos.
Amigas de décadas e colegas na Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República, começaram a trajetória de militância ainda na adolescência.
Rosângela, psicóloga, envolveu-se com as questões sociais, por meio da Pastoral da Juventude da Igreja Católica, quando vivia no interior gaúcho. Lurdinha, socióloga, chegou a São Paulo trazendo ideais adquiridos no Ceará.
Maria de Lourdes lutou contra a ditadura, ajudou a fundar a Liga Brasileira de Lésbicas e integrou o Conselho Nacional de Saúde, antes de se tornar coordenadora-geral da Diversidade na SPM.
Rosângela Maria, recém-promovida a secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas, antes havia ocupado a Secretaria Estadual de Mulheres do PT-SP e par-ticipado do Coletivo Nacio- nal de Mulheres do partido.
Rosângela era a funcionária caxias: a primeira a chegar, a última a sair. Lurdinha, a colega amorosa, solidária, de abraços carinhosos.
Esta era uma articuladora nata, tanto para combater a discriminação de gênero quanto para reunir os amigos num bar; aquela já se vestiu até de Papai Noel em um Natal na casa dos pais para brincar com os sobrinhos e primos mais novos.
Em janeiro, algumas funcionárias da secretaria decidiram comemorar o 51º aniversário de Rosângela com um passeio a uma cachoeira. A ideia virou uma espécie de tradição; seria repetida em fevereiro, mês de nascimento de Lurdinha, que completou 55.
No dia 14, sábado de Carnaval, as duas seguiam de carro para a Chapada Diamantina com a amiga Célia Maria Escanfella quando sofreram um acidente no interior da Bahia. Nenhuma delas sobreviveu.