10 brasileiras históricas que encarnam o girl power como Beyoncé

12 de setembro, 2016

Precursoras do feminismo, figuras como Dandara dos Palmares, Chiquinha Gonzaga e Maria da Penha não podem ter suas trajetórias esquecidas

(O Globo, 12/09/2016 – acesse no site de origem)

“Who run the world?”. Hoje, quando a diva Beyoncé faz essa pergunta em sua famosa música, todo mundo sabe responder que o poder é feminino. Essa resposta fácil só acontece porque muitas mulheres décadas antes da cantora existir fizeram história na luta pela igualdade. E não precisa ir muito longe para lembrá-las. Aqui mesmo no Brasil temos exemplos de precursoras do feminismo cheias de ousadia e coragem, o girl power que a Queen B tanto canta e defende.

A Queen B só pode exaltar o empoderamento feminino porque muitas mulheres antes dela abriram o caminho (Foto: Eduardo Munoz/Reuters)

Para Bia Varanis Ortega, autora da página “As Mina na História”, é fundamental se debruçar sobre essa figuras históricas para compreender o papel atual das mulheres:

— Nós, mulheres, trazemos em nosso corpo o peso de uma luta antiga e resistente. É importante estudar essas personagens para saber reconhecer os retrocessos que ainda nos acompanham, para compreender a mulher na sociedade, suas transformações e conquistas.

Autora do livro “Histórias e Conversas de Mulher” (Planeta), a historiadora e escritora Mary del Piore entende que lutar é algo intrínseco à natureza das mulheres brasileiras, sejam elas famosas ou anônimas.

— É incrível como essas mulheres são batalhadoras. A brasileira sempre sustentou a família, cuidando da família, de casa, da própria vida. É um esforço fantástico que elas faziam e continuam fazendo hoje, se pensarmos nas que têm uma jornada dupla. Para mim, o grande modelo e exemplo é esta mulher anônima, a grande heroína do Brasil que faz viver milhares pessoas — opina Mary.

E justamente para que a história dessas lutadoras não caia no anonimato que listamos dez mulheres que promoveram transformações no país com sua ousadia destemida.

1 – Leolinda Daltro

Em 1909, chamar alguém de “Mulher do Diabo” era o mesmo que reforçar características e direitos que hoje parecem naturais. Atitudes como questionar ordens vindas da família e maridos, se interessar por política e exigir o direito ao voto. Foi exatamente por isso que a baiana Leolinda Daltro (1859 – 1935) ganhou esse apelido nada carinhoso.

Além de lutar por uma sociedade que recebesse e integrasse os índios brasileiros, Leolinda fundou, em 1910, o Partido Republicano Feminino, antes mesmo de o voto ser concedido às mulheres.

2 – Nísia Floresta

A escritora e educadora Nísia Floresta, que viveu entre 1810 e 1885, pode ser considerada uma das primeiras feministas brasileiras. Sem se deixar intimidar, ela questionou o pensamento vigente em plena sociedade escravocrata e patriarcal do século 19.

Nísia é a autora de “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”, livro inspirado na obra da feminista inglesa Mary Wollstonecraft. Nele, a escritora propõe uma nova e libertária reflexão entre as mulheres, questionando o papel feminino na sociedade até aquela ladainha sobre vocação ‘divina’ para cuidar do lar, dos filhos e do marido.

3 – Maria Quitéria

Quem não se lembra da clássica cena de Mulan, animação da Disney, em que a delicada princesa corta os próprios cabelos com uma espada para se passar por um guerreiro do exército chinês? Essa história poderia ter uma versão brasileira, protagonizada por Maria Quitéria, uma baiana nascida no arraial de São José de Itapororocas. Ela foi a primeira mulher a assentar praça em uma unidade militar das Forças Armadas.

Desde jovem, Quitéria preferia brincar com armas de fogo e cavalos. Quando soube do recrutamento de combatentes pró-Independência, ela fugiu de casa, cortou os cabelos, para não gerar nenhum tipo de desconfiança, e se alistou nas tropas brasileiras. Foi a primeira mulher a entrar em combate pelo Brasil, expulsando as tropas portuguesas do território baiano, na liderança de um pelotão de mulheres. Isso que é empoderamento feminino.

4 – Dandara dos Palmares

Zumbi dos Palmares sempre é lembrado como um ícone da resistência negra contra a escravidão e o racismo. Alguma vez, porém, você ouviu falar em Dandara dos Palmares? Pois bem, ela era a parceira de vida, resistência e luta de Zumbi, uma mulher igualmente forte e inspiradora na história do Quilombo dos Palmares.

5 – Antonieta de Barros

A participação das mulheres na política ainda precisa dar alguns passos importantes e fundamentais no Brasil. Quando falamos de mulheres negras, então, a urgência é ainda maior, já que elas não contam com as mesmas oportunidades que as demais. Uma mulher do século passado, porém, foi pioneira na luta contra a discriminação racial e de gênero.

Antonieta de Barros deve sempre ser lembrada como uma baita inspiração para todos. Professora, jornalista e escritora, Antonieta foi a primeira deputada estadual negra do país e primeira deputada estadual mulher do estado de Santa Catarina, em 1935.

6 – Chiquinha Gonzaga

É bem provável que você já tenha cantado um clássico do carnaval feito por uma brasileira inspiradora. A famosa “Ó Abre Alas” foi composta por Chiquinha Gonzaga, compositora e maestrina carioca que desafiou todos os limites impostos pela sociedade careta e machista. A música era sua verdadeira paixão. A artista não hesitou em se profissionalizar neste ramo, embora poucas mulheres tivessem a mesma chance pelos anos de 1877.

Tá achando pouco? Além de brilhar como compositora, ela musicou operetas, dirigiu concertos e foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.

7 – Maria da Penha

A conquista da lei que protege mulheres de violência doméstica veio à custa de muita dor e sofrimento para uma brasileira. A Lei de número 11.340 leva o nome de uma farmacêutica que lutou, por muitos anos, para que seu agressor fosse devidamente condenado na Justiça. Maria da Penha ficou paraplégica depois de ser baleada com uma espingarda pelo próprio marido, em 1983; ele tentou matá-la ainda mais uma vez, eletrocutando-a.

Antes da criação da lei, Maria da Penha conseguiu levar seu caso até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), gerando repercussão sobre o modo como o Brasil encarava e punia agressões físicas contra mulheres até então. Sancionada em 2006, a Lei Maria da Penha é o devido reconhecimento e punição de uma violência que ainda silencia e aprisiona muitas mulheres em ambientes domésticos e familiares.

8 – Pagu

“Só quem morreu na fogueira sabe o que é ser carvão”. Esse verso foi uma maneira que a cantora Rita Lee encontrou para homenagear uma das mulheres mais corajosas e libertária, Patrícia Galvão, a Pagu que dá nome à canção. Ícone do movimento modernista do século 20, ela defendia com unhas e dentes o direito da participação ativa das mulheres na sociedade.

É complexo limitá-la a uma única função. Escritora, poeta, jornalista, desenhista… Pagu era uma mulher à frente de seu tempo, transgressora e questionadora em essência.

9 – Leila Diniz

Amor livre não é invenção dessa galerinha jovem das redes sociais não. A atriz Leila Diniz já falava disso lá atrás, nas nada fáceis décadas de 1960 e 1970, com o Brasil vivendo uma ditadura. Ela disse, certa vez, que achava completamente normal amar uma pessoa e ir para a cama com outra. Ainda hoje uma declaração do tipo ainda abala as estruturas da família tradicional brasileira.

Por isso, a carioca merece um lugar de destaque na nossa história, ao lado de outras mulheres igualmente poderosas, por subverter clichês românticos, domésticos e ditos “femininos” em busca da própria verdade.

10 – Zilda Arns

Médica pediatra e sanitarista, Zilda Arns deixou um legado de compaixão e solidariedade aos que lutam por uma infância mais justa para as crianças brasileiras. Fundadora da Pastoral da Criança, uma organização com foco em projetos de sobrevivência, proteção e desenvolvimento de crianças e adolescentes, Zilda transformou sua profissão em uma linda e admirável missão de vida. Ela recebeu o título de Cidadã Honorária de mais de 10 estados e 37 municípios, além de prêmios e homenagens nacionais e internacionais por seu trabalho voltado à infância. Ela ainda foi indicada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz.

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