Às vezes ouvimos que o feminismo já não é necessário, pois no papel homens e mulheres são iguais. Na prática, porém, não é bem assim
(Revista AzMina, 06/06/2017 – acesse no site de origem)
Na última coluna eu falei sobre a importância dos nomes que damos às coisas à nossa volta, e como eles impactam na forma como enxergamos o mundo. Hoje, vamos falar sobre uma palavra em particular, que aparentemente gera muitos equívocos. Essa palavra é justamente “feminismo”.
Ironicamente essa palavra que tem tanto significado para as mulheres foi cunhada por um homem. “Feminisme” foi usada pela primeira vez pelo sociólogo francês Charles Fourier em 1837 para descrever a emancipação feminina que ele propunha como necessária para o futuro que ele imaginou ideal. Claro que antes disso já existiam mulheres lutando por ideias feministas, mas esse foi o primeiro registro escrito da palavra em si.
Tenho que admitir que não tenho familiaridade com a obra de Fourier, mas se observarmos que a raiz da palavra é “femme”, mulher em francês, fica claro que ele estava se referindo à igualdade para as mulheres de direitos políticos e legais que os homens já contavam. É justamente essa definição relativamente rasa que dá margens ao argumento de que o feminismo já não é necessário, uma vez que no papel homens e mulheres são iguais, obedecem às mesmas leis e contam com os mesmos direitos.
Mas qualquer mulher, até mesmo a que faz questão de afirmar que é não feminista ou que não precisa do feminismo, sabe que a realidade é bem diferente da teoria. É por isso que acredito que as pessoas que dizem isso possivelmente têm uma compreensão diferente do termo. É difícil desfazer uma primeira impressão, principalmente quando estamos falando de um movimento que não é coeso e que conta com diferentes vertentes e propostas.
Continuamos chamando de feminismo porque as mulheres ainda são as mais afetadas pela sociedade patriarcal. Isso não quer dizer que somos contra os homens, odiamos os homens ou que não queremos que eles também se beneficiem do movimento.
Acredito que isso esteja claro, mas não custa reafirmar: feminismo não é o oposto de machismo. Machismo mata. Feminismo empodera
De qualquer forma, mesmo que a sua percepção do que é o feminismo não seja a mesma que a minha, não dá para simplesmente ignorar que mulheres recebem da sociedade um tratamento diferente dos homens. É como tentar negar a existência do preconceito contra raças, sexualidades, idades, habilidades… e por aí vai. Só por que você acredita que não te afeta não quer dizer que não existe. Vamos praticar sororidade e solidariedade pessoal!
Como tocamos nas diferentes formas de preconceito e desigualdade, na próxima coluna vamos destrinchar o que é interseccionalidade, termo que sempre surge durante uma conversa entre feministas e que você possivelmente já viu circulando online. Ficou com alguma dúvida? Quer saber sobre algo específico? É só mandar a pergunta que a gente responde!