Ansiedade, corrupção, aborto, meio ambiente: o retrato das preocupações dos jovens brasileiros

24 de janeiro, 2025 Sou Ciência (Unifesp) Por Redação

Pesquisa revela o que mais preocupa os jovens de 18 a 27 anos. Entre as aspirações, vontade de empreender supera o interesse em emprego com carteira assinada

Uma pesquisa ampla realizada pelo Centro de Estudos SoU_Ciência em parceria com o Instituto IDEIA trouxe à tona os desafios e as aspirações dos jovens brasileiros entre 18 e 27 anos. Em setembro foram ouvidos 1.034 jovens, revelando um panorama que contempla temas relacionados a aspectos da vida pessoal, estudantil e profissional dos jovens, suas perspectivas de futuro, posições ideológicas e percepções sobre o país.

Na avaliação de Pedro Arantes, professor da Unifesp e pesquisador do SoU_Ciência, a pesquisa mostra “que os jovens estão pedindo ajuda, estão apontando que sofrem com diversos problemas que não se resolvem facilmente: ansiedade e depressão, violência, drogadição, vícios em celulares e em jogos. O que nós, como sociedade, faremos?”. Além disso, comenta Arantes, “eles nutrem expectativas de não serem trabalhadores assalariados, querem ser empresários, ter o próprio negócio e viver de renda e dividendos. Essa é uma expectativa que vai ser frustrada, não existe sociedade só de empresários, a imensa maioria será e continuará sendo trabalhadora, formalizada ou precarizada – ou seja, este desejo de ser patrão será outro motivo de ansiedade e desilusão”.

Saúde mental no topo das preocupações – Ansiedade e depressão foram apontadas como os maiores desafios pessoais por 38% dos entrevistados. O dado representa um aumento em relação a 2021, quando o tema ocupava o terceiro lugar com 32%. Mulheres mencionaram essas questões com maior frequência do que homens (43% contra 32%). Entre os universitários, 51% indicaram ansiedade e depressão como principais problemas, em comparação a 32% entre aqueles que não frequentam o ensino superior.

Outros problemas relacionados à saúde mental também foram destacados. O vício em celular e redes sociais teve um aumento de 41% entre 2021 e 2024, sendo mais citado por mulheres (27%) e jovens de classe AB (27%). O consumo de drogas foi mencionado por 22%, com destaque entre jovens de classe C (30%) e aqueles com ensino superior completo (34%).

Corrupção: o maior problema do país – A corrupção foi mencionada por 34% dos jovens como o principal problema do Brasil. Esse percentual representa um aumento em relação aos 26% registrados em 2021. A preocupação com o tema foi mais comum entre homens (40%) e jovens da classe AB (37%). Entre os jovens de direita ou centro-direita, 52% consideraram a corrupção como o maior desafio nacional. Já entre aqueles que se identificam como de centro, o índice foi de 21%.

A violência e a falta de segurança foram o segundo maior problema apontado, com 30% das respostas, uma queda em relação aos 35% registrados em 2021. Mulheres (33%) e jovens da classe DE (30%) destacaram essa questão com maior frequência. O Nordeste foi a região onde o tema apresentou maior relevância, sendo citado por 33% dos jovens.

Por outro lado, fome e pobreza, que eram a principal preocupação em 2021 com 66%, caíram para 18%, ocupando a oitava posição no levantamento atual.

Empreendedorismo versus carteira assinada – Ter o próprio negócio é a maior aspiração profissional de 30% dos jovens entrevistados. O interesse é mais comum entre mulheres (34%) e jovens pretos (31%) e pardos (32%), superando brancos (27%). Regionalmente, o Centro-Oeste registrou o maior percentual (37%), enquanto o Nordeste apresentou o menor índice (27%).

Quanto ao emprego com carteira assinada, apenas 11% dos jovens manifestaram interesse, embora este modelo seja a fonte de renda atual para 41% deles. Entre aqueles com ensino superior completo, o interesse no empreendedorismo atinge 31%, enquanto o desejo por um trabalho com registro em carteira é de apenas 8%.

A carreira no funcionalismo público foi mencionada por 18% dos jovens, com destaque entre os que se identificam como de esquerda (28%). A possibilidade de viver de investimentos também aparece como aspiração para 18% dos entrevistados, apesar de atualmente representar fonte de renda para apenas 1%.

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