Em meio à exuberante paisagem amazônica, uma iniciativa está transformando a vida das mulheres indígenas da comunidade Assunção do Içana – Alto Rio Negro, Amazonas
O coletivo Amaronai, cujo nome significa “filhas de Amaro” – em homenagem à primeira mulher Baniwa, uma xamã que originou esta etnia -, busca trazer dignidade menstrual através da produção de absorventes de pano.
Fundado em 2019, o coletivo surgiu de um encontro entre mulheres indígenas e não indígenas, durante o qual as participantes Baniwa foram apresentadas aos absorventes de pano. Encantadas com a novidade, as mulheres começaram a desenvolver estratégias para garantir o acesso universal a essa tecnologia sustentável. Amaronai promove soluções menstruais ecológicas que, além de melhorar a higiene menstrual das mulheres indígenas, contribuem para a preservação ambiental e a geração de renda.
Francy Baniwa, líder do coletivo Amaronai, destaca a importância da iniciativa: “Trouxemos nosso conhecimento ancestral aliado à tecnologia do tecido. A mulher se sente segura, além de proteger o próprio corpo. O impacto é enorme, teremos menos lixo, menos exposição espiritual e mais proteção do corpo feminino.”
Mitos e Cultura
A importância da menstruação na cultura Baniwa é ressaltada através de seus mitos e tradições. Segundo a cosmologia Baniwa, a história conta que Amaro, (a primeira mulher do povo, que era uma mulher xamã), viveu no período em que elas eram donas dos animais sagrados – ou seja, eram as xamãs de suas comunidades. Naquela época, as mulheres tinham vagina, mas não menstruavam. A forma que o demiurgo Nãpirikoli encontrou de roubar o conhecimento que pertencia a elas, foi as fazendo sangrar, jogando uma fruta de Caruru nessas mulheres. Assim, o segredo delas passou a estar contido na menstruação.
Francy Baniwa, uma das líderes do projeto, explica: “Caruru nasce na natureza por si só, ela não é cultivada, mas é nativa. Comemos as folhas, mas as frutas são venenosas. Quando a fruta é amassada, ela sangra. O líquido dela é sangue puro. O mito diz que a única forma de paralisar Amaro e outras mulheres foi trazendo a menstruação pelo Caruru. Por isso, é tão importante para as indígenas terem controle sobre o destino do seu sangue menstrual”.