Lembre as histórias de Ingriane, Caroline Duo, Jandira, Elizângela e Caroline Carneiro, vítimas da criminalização do aborto seguro.
Neste setembro, mês da Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto na América Latina e Caribe, o Catarinas lembra cinco casos de mulheres que morreram por que não tiveram acesso a um aborto seguro. Com 32 anos ou menos, a maior parte delas já tinha filhos e todas eram da classe trabalhadora. Ingriane, Caroline Duo, Jandira, Elizângela e Caroline Carneiro são símbolos da luta pelo direito de realizar um procedimento de maneira segura.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que o aborto é um procedimento seguro, tornando-se inseguro apenas quando realizado sem informações adequadas, sem medicação apropriada e sem acompanhamento médico. Ou seja, é criminalização do aborto no Brasil o que provoca casos inseguros que resultam em mortes.
Lembre os casos:
Caso Ingriane
Em 2018, Ingriane Barbosa Carvalho de Oliveira, 31 anos, morreu por infecção generalizada após recorrer a um abortamento inseguro, em Petrópolis (RJ). Ingriane vivia na localidade de Pedro do Rio, há 30 quilômetros do centro da cidade, trabalhava como babá e empregada doméstica e dividia a casa de quatro cômodos com a mãe, o padrasto, a irmã de 20 anos e o sobrinho de 2, além dos três filhos. Na época, Ingriane aguardava na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar uma laqueadura e tomava anticoncepcional.
Após tentar interromper uma gravidez de aproximadamente 4 meses com um talo de mamona, ela ficou sete dias internada no hospital, onde passou por uma histerectomia (retirada do útero) para controle da infecção, mas não resistiu.
“Essa história nos diz sobre o abandono de uma mulher que procura o abortamento inseguro. O desespero da busca para resolver um problema que ela não tem ideia por onde começar, quem procurar. E não pode contar com ninguém, nem mesmo com a família porque tem essa recriminação social e da igreja. O marco do abortamento ilegal é o abandono e o desamparo da mulher que faz a via-crúcis sozinha”, analisou à época a advogada Drica Madeira, para o Catarinas.
Caso Caroline Mele Machado Duo
Em 2018, Caroline Mele Machado Duo, 23 anos, foi encontrada morta em uma quitinete, em Itapema, litoral de Santa Catarina. O namorado de 26 anos e outra pessoa de 56, que estavam no local e acionaram os socorristas do Samu, foram presos em flagrante, suspeitos dos crimes de aborto qualificado pela morte da gestante e venda de remédios sem registro. Caroline estava no sexto mês de gestação.
Natural de São Carlos (SP), a jovem morava em Rio Preto (SP) e cursava Nutrição na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Minas Gerais.
Na quitinete, foram encontrados comprimidos de Cytotec – nome comercial do misoprostol, remédio abortivo descoberto por brasileiras – luva cirúrgica, uma garrafa de refrigerante com odor de acetona e uma máquina artesanal que, segundo investigação da polícia à época, poderia ser uma bomba de sucção.
“No Brasil as mulheres continuam desesperadas atrás de estratégias de interrupção da gravidez. Esse não é um caso isolado”, destacou a médica Sandra Valongueiro ao Catarinas, quando cobrimos o caso.
Caso Jandira
Em 2014, o corpo de Jandira Magdalena dos Santos Cruz, 27 anos, foi encontrado mutilado e carbonizado. No dia anterior, ela morreu em uma clínica clandestina no Rio de Janeiro, por complicações durante o procedimento realizado por um falso médico, ao tentar interromper uma gravidez de três meses. Em 2018, uma mulher e dois homens foram condenados pela morte, com penas que variaram entre 15 e 35 anos. Ela deixou duas filhas, cujas guardas passaram para a mãe de Jandira.
O documentário “Meu corpo, minha vida”, de Helena Solberg, debate o risco provocado pela criminalização do procedimento e cita a história de Jandira, além de mostrar manifestações pelo direito ao aborto.