A decisão do STF de não considerar crime aborto até o terceiro mês foi sobre um caso específico, de Duque de Caxias e deu abertura para discussão nas esferas virtuais. De um lado pessoas que defendem o direito de escolha da mulher. De outro, pessoas que consideram aborto “assassinato”.
(Ondda, 01/12/2016 – acesse no site de origem)
Mas aborto não é sobre a opinião das pessoas. Não é sobre o que pensa o pastor, o padre, o Papa, o vizinho, o tio, o papagaio. Não é sobre religião, não é sobre fé. Aborto é questão de saúde pública. Por ano são realizados no Brasil 1 milhão de abortos e 250 mil tem complicações graves como hemorragia, infecções generalizadas e morte.
Nenhuma mulher deseja isso, ninguém planeja isso para sua vida, não é objetivo de nenhuma mulher passar por isso -“Quero terminar a faculdade, arrumar um trabalho bacana, viajar e fazer um aborto”. Ninguém acorda de manhã e diz feliz “Que lindo dia para fazer um aborto”. Ninguém reúne as amigas e vai contente e saltitante realizar um aborto. Ninguém. É o último recurso. E por favor, sem esse papo de métodos anticoncepcionais que não falham e que estão em vasta distribuição em postos de saúde. Na prática, as coisas não funcionam desse jeito.
A cada dois dias uma mulher vem a óbito por causa de complicações causadas por aborto realizados em clínicas sem estrutura adequada, por “curiosas” ou porque introduziram agulha de crochê, aros de bicicletas ou cabides em suas vaginas numa tentativa de abortamento. Mulher pobre e negra tem risco multiplicado por mil quando necessita de um aborto.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil, uma em cada nove mulheres recorre ao aborto como meio de pôr fim a uma gestação não planejada. E o que isso quer dizer? Que mulheres abortam sendo descriminalizado ou não. Mesmo tendo um Estado que não no permite legislar sobre nossos corpos mulheres continuaram abortando e morrendo. Então porque não assegurar suas vidas? Porque não permitir que apenas elas decidam sobre seus corpos? Não é uma questão individual. Não quer abortar, não aborte, é um direito. Mas, não proíba outras pessoas de terem essa opção segura e legal. Aborto é sobre o direito ao próprio corpo.