Estudo de 2022 também demonstra que vítimas de estupro encontram outras dificuldades no acesso ao procedimento legal. Maior parte dos hospitais que fazem procedimento ficam nas regiões Sudeste e Sul.
A cada ano no Brasil, 20 mil mulheres engravidam por estupro e 2 mil abortos legais são realizados. Os dados estão em uma pesquisa feita na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que apontou também que o procedimento feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) está disponível em 3,6% dos municípios brasileiros. O estudo publicado em 2022 traz os dados mais recentes sobre o procedimento.
Dos 5.568 municípios do país, 200 realizam o aborto legal pelo SUS. A maioria fica nas regiões Sudeste e Sul. Santa Catarina tem quatro hospitais de referência para o aborto legal: em Florianópolis e São José, na região da capital, Blumenau, no Vale do Itajaí, e Joinville, no Norte.
“Essa concentração em quatro estabelecimentos faz com que o HU [Hospital Universário] em Florianópolis seja referência para o Extremo Oeste. Então a pessoa lá de São Miguel do Oeste tem que vir até Florianópolis pra fazer um aborto legal. Fazer 12 horas de carro, quando tem sorte”, disse a autora da pesquisa e doutora em Saúde Coletiva pela UFSC, Marina Jacobs.
A pesquisa começou há seis anos. Além da distância, Jacobs mapeou outros obstáculos, como o estigma, a lacuna de informações e a falta de acolhimento nos hospitais.
“Muitas vezes a pessoa chega até o serviço de referência, mas acontece de serem exigidos documentos que não precisaria ou barreiras que tem a ver com o tempo de espera com dificuldade de agenda, ou com profissionais que se opõem a fazer um aborto legal”, completou a pesquisadora.