(Revista Glamour, 01/12/2015) Você sabia que hoje, no Brasil, a proporção dos casos é de dois infectados masculinos pra um feminino?
Aids não tem cara, muito menos gênero. A anatomia feminina deixa as mulheres ainda mais suscetíveis a contrair o vírus do HIV, mas elas ainda parecem estar longe de se conscientizar sobre a prevenção. Quando surgiu, há mais de 30 anos, a doença parecia atingir somente homens que faziam sexo com homens. Em seguida, os hemofílicos se tornaram vítimas em potencial. Finalmente, os cientistas perceberam que qualquer pessoa é vulnerável. “Hoje em dia, no nosso País, a via heterossexual de transmissão do HIV é tão importante quanto a transmissão entre homens que fazem sexo com homens”, conta a médica infectologista Vivian Iida Avelino-Silva, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo. Segundo os últimos dados do Ministério da Saúde, a proporção já é de cerca de dois casos de infectados masculinos pra um caso feminino.
Medicação e inconsequência
Os medicamentos anti-retrovirais, que dão uma sobrevida aos pacientes infectados, criam uma falsa impressão de cura e o consequente relaxamento na prevenção. Uma pesquisa do Ministério da Saúde feita com 12 mil pessoas concluiu que 94% dos brasileiros sabem que a camisinha é a melhor forma de se proteger contra doenças sexualmente transmissíveis, mas 45% não usaram preservativo nas relações casuais dos últimos 12 meses. Ou seja, quase metade não se protegeu em relações eventuais, nos relacionamentos fixos, então, nem se fale! E a doença não perdoa: o número de jovens entre 15 e 24 anos que contraíram o vírus do HIV aumentou 40% nos últimos sete anos. Jovens que não acompanharam o terror dos primeiros anos de Aids e a falta de medicamentos pra tratá-la.
O problema é que se não morrem mais tantas pessoas por causa do vírus, ainda não dá pra se falar em cura. Os medicamentos servem para que o paciente tenha qualidade de vida, mas o vírus fica ali, quietinho, escondido, esperando uma brecha pra reaparecer. “O HIV continua sendo um problema importante de saúde pública no Brasil e no mundo”, diz a doutora Vivian.
Várias pesquisas e, várias partes do mundo têm encontrado caminhos para a criação de uma vacina e de tratamentos mais eficientes contra o HIV, mas a solução ainda está em um futuro não tão próximo. Por isso, proteja-se! Ande sempre com uma camisinha na bolsa, seja ela feminina ou masculina. E não relaxe só porque você confia no namorado ou marido. “Está nas mãos da mulher negociar com seus parceiros sexuais as formas de prevenção”, enfatiza Fábio Mesquita, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Neste caso, sexo frágil
O crescimento na parcela de mulheres infectadas –elas são 35% do total de casos registrados de 1980 até 2014—tem algumas explicações. A principal é que quem faz sexo passivo, seja vaginal ou anal, é mais propenso a receber o vírus. “Em relações heterossexuais, as mulheres têm cerca de três vezes mais chances de serem infectadas do que os homens”, explica o médico infectologista David Salomão Lewi, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
A falta de informação e o excesso de confiança no parceiro ainda são os maiores aliados da disseminação do vírus entre a ala feminina. Não existem dados concretos que comprovem, mas a experiência dos infectologistas demonstra que a maioria das mulheres são infectadas ao fazer sexo com seus parceiros fixos sem proteção. Estes, por sua vez, trazem literalmente o vírus pra casa depois de terem relações extraconjugais desprotegidas (sejam com outros homens ou mulheres).
Olívia Silveira
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