É melhor prevenir do que remediar: PEP sexual não substitui o uso da camisinha

18 de agosto, 2015

(R7, 18/08/2015) Jovens têm a maior taxa de detecção de Aids no País e são os que menos usam preservativos

A PEP sexual, ou profilaxia pós-exposição do HIV, não é indicada para todos e nem deve ser usada a qualquer momento. Ela não substitui o uso da camisinha e não deve ser utilizada em exposições sucessivas, pois seus efeitos colaterais pelo uso repetitivo são desconhecidos em pessoas HIV negativas.

Além disso, quem se expõe ao risco com frequência pode ter sido infectado pelo HIV em alguma dessas exposições e vai necessitar de uma avaliação médica — clínica e laboratorial — cuidadosa.

Disponível desde a década de 1990 no SUS (Sistema Único de Saúde), o procedimento era indicado, inicialmente, para os profissionais de saúde, como prevenção, em casos de acidentes de trabalho, com materiais contaminados ou possivelmente contaminados. A partir de 1998, a PEP foi estendida para vítimas de violência sexual.

Em 2011, o tratamento passou a incluir qualquer exposição sexual de risco, como o não uso ou o rompimento do preservativo. Desde 2010, foram oferecidos 87.891 tratamentos e a oferta da terapia quase dobrou de 2010 para 2014 — passando de 12 mil tratamentos para 22 mil. Só no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, a procura por PEP cresceu 42% do ano passado pra cá.

A eficácia da PEP sexual diminui à medida que o tempo passa. Assim, o ideal é que iniciar o medicamento nas primeiras duas horas após a relação sexual, a partir da avaliação da equipe de saúde. O prazo máximo para início da PEP sexual é de 72 horas.  O medicamento deve ser tomado durante 28 dias seguidos, sem interrupção, sob acompanhamento da equipe de saúde.

Para Ralcyon Teixeira, supervisor do PS do Emílio Ribas, há uma cultura de que tudo pode ser resolvido com uma pílula, do emagrecimento à tristeza, e com a Aids não é diferente.

— Não há nenhuma conversa, falta educação sexual, e a incidência do HIV está aumentando. No Brasil, as pessoas acreditam que para tudo tem uma pílula que resolve e se esquecem da prevenção.

O que muita gente que abre mão da camisinha e arrisca todas as fichas na PEP não leva em consideração são os efeitos colaterais da PEP. A maioria dos medicamentos causa mal-estar. Além disso, é muito importante fazer o acompanhamento durante as 24 semanas.

Nesse período, a equipe médica irá investigar se o paciente adquiriu o HIV ou outras DST, como hepatite ou sífilis, por exemplo. Uma vez indicada a PEP sexual, o paciente não poderá abandonar os medicamentos. Isso pode fazer a diferença entre se infectar ou não com o HIV.

De acordo com dados da pesquisa de PCAP (Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira ), realizada em 2013, a maioria dos brasileiros (94%) sabe que a camisinha é melhor forma de prevenção às DST e Aids. Mas, mesmo assim, 45% da população sexualmente ativa do País não usou preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses.

Para o infectologista Fábio Araújo, a prática médica demonstra que a partir do momento em que a Aids passou a ser considerada uma doença crônica, tratável, houve um relaxamento na prevenção.

— No início da epidemia, ter um diagnóstico de Aids era uma sentença de morte. Mas logo se descobriu que era evitável com o uso do preservativo. Mas as pessoas mais jovens, que não vivenciaram o medo, o pânico, acham que se pegar tudo bem, tem remédio.

Se por um lado essa visão ajuda a reduzir o estigma com os portadores do vírus, por outro tem levado a um comportamento inconsequente. Segundo o Ministério da Saúde, os jovens têm hoje a maior taxa de detecção da doença no País, um índice que vem crescendo nos últimos dez anos.

Em 2003, a taxa de detecção da Aids entre os jovens era de 9,6 a cada 100 mil habitantes. Em 2013, ano dos últimos dados disponíveis, essa taxa passou para 12,7 por 100 mil pessoas (2013). Ao mesmo tempo, a adesão deste grupo ao uso de camisinha é preocupante. Cerca de 60% dos jovens com vida sexual ativa não usam preservativos.

Deborah Bresser

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