Nesse momento de mobilização, a informação é um dos maiores aliados contra a doença. Quais cuidados devem ser tomados durante gestação e amamentação? Quais são as recomendações para quem trabalha como cuidadora de crianças e idosos? Home office é a melhor alternativa? Buscando responder a essas e outras questões, conversamos com especialistas para entender situações relacionadas ao vírus que podem impactar diretamente a vida das mulheres.
Tania Vergara, porta-voz da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juliana Esteves, ginecologista membro da Comissão Nacional especializada em Assistência Pré-natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Patricia Canto, pneumologista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, responderam dúvidas e deram recomendações sobre o tema.
Coronavírus em homens e mulheres: existe diferença?
De acordo com Tania Vergara, que também é presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, não existem, até o momento, dados suficientes para apontar um maior risco de contrair o vírus entre homens ou mulheres. Ela explica que a vulnerabilidade vai depender principalmente de outros fatores, como a faixa etária.
A pneumologista Patricia Canto lembra que os primeiros artigos publicados, quando a situação era mais restrita à China, mostraram um predomínio de homens entre casos mais graves, mas afirma que não há no momento nenhum estudo que aponte um risco maior ou menor relacionado à questão de gênero. Para ela, esses dados podem ser mais relacionados a comportamentos sociais, de procura por serviços de saúde, ou por mulheres ainda trabalharem menos fora de casa.
Gravidez e prevenção ao coronavírus
A ginecologista Juliana Esteves explica que quando ocorre uma epidemia ou pandemia, há sempre um alerta em relação às gestantes. Porém, diferente de como aconteceu com a influenza e a zika, elas não estão se mostrando um grupo de risco em relação ao coronavírus.
— Estamos nos baseando por enquanto nos locais que estão mais a nossa frente, pela epidemia ter acontecido antes, que no caso é a China — ela afirma. — Não tivemos quadros de maior gravidade para mulheres por estarem gestantes e isso é um dado fundamental. Mas é claro que ela sempre vai ter uma precaução maior, porque está prestes a ter um bebê e pode ser veículo transmissor para ele, no pós-parto. Essa é a nossa principal atenção, principalmente para as que estão em fase tardia da gestação.
De acordo com a médica, um estudo realizado na China com mães infectadas pelo novo coronavírus mostra que ele não foi identificado no líquido amniótico, no cordão umbilical, na placenta ou no leite materno. Portanto, a princípio, não existe documentação de transmissão vertical, durante a gestação. Para as futuras mães que estejam com suspeita de Covid-19 ou já saibam que estão infectadas, os cuidados devem ser o mesmos de toda a população.
— A assistência pré-natal é sempre um parêntese quando se fala em interromper atendimentos eletivos. Ela deve continuar, porque a gestante não está exposta somente ao coronavírus, existem outros riscos inerentes. O que a gente pede é que ela vá sem acompanhante, porque é uma consulta que costuma agregar muitas pessoas, e ela deve ter o mesmo cuidado da população em geral, de usar a máscara se tiver algum sintoma — recomenda a ginecologista, que atua no Hospital Federal dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro.
Outro aspecto destacado pela médica é a vacinação contra a gripe, que deve ser tomada pela população, incluindo as grávidas. De acordo com o Ministério da Saúde, a campanha foi antecipada e vai começar no dia 23 de março para grupos prioritários. O dia D da campanha será em 9 de maio. Tania Vergara também destaca a importância da vacina para as mulheres gestantes:
— É preciso tomar a vacina porque ela evita ter uma doença que pode confundir com os sintomas do coronavírus e que também pode baixar a imunidade, o que já é comum durante a gravidez — destaca a infectologista.
Amamentação e cuidados com recém-nascidos
Juliana Esteves, da Febrasgo, afirma que a orientação mais recente, baseada em canais internacionais, é o uso de máscara em pacientes que estejam amamentando e possam ter tido contato com o vírus, para evitar a transmissão de gotículas ao recém-nascido. Ela destaca a importância da amamentação para a saúde do bebê.
— O benefício do leite é indiscutível, então para contraindicar a amamentação teria que haver uma evidência de forte presença do vírus nele e que pudesse causar patologia no bebê — ela explica.
A médica também ressalta que os cuidados com a higiene nesse momento são muito importantes.
— Os cuidados devem ser aqueles inerentes ao recém-nascido, as ações de higiene já costumam ser mais valorizadas nessa fase. Além disso, essa já não é uma época ideal de receber visitas, e isso precisa ser mais restrito ainda — afirma a ginecologista.
Exames de rotina: é melhor remarcar?
De acordo com a porta-voz da Sociedade Brasileira de Infectologia, até a data atual ainda não estão suspensos exames e consultas eletivos, mas é possível que isso aconteça, para reservar os sistemas de saúde para situações de mais urgência. Mulheres que precisem realizar exames de rotina, como o preventivo, devem analisar se a ida ao médico nesse momento é necessária ou não.
Juliana Esteves ressalta que essa situação deve ser analisada de forma individual, pois depende se a paciente tem algum tipo de urgência.
— Se ela puder, deve entrar em contato com o médico e eles juntos vão avaliar se é necessária a ida ao consultório. Nem toda consulta pode ser reprogramada, mas as que podem a gente está remarcando — conta a ginecologista.
Mulheres que atuam como cuidadoras
Muitas mulheres trabalham como cuidadoras, ou exercem essa função no seu meio familiar, sendo responsáveis pelas crianças e idosos. Nesses casos, é preciso diminuir o contato físico, o compartilhamento de talheres e copos e ter muita atenção caso alguém adoeça. Vergara destaca que as crianças adoecem pouco e têm menos sintomas, mas podem pegar a doença e transmitir para as outras pessoas.
— Em casa é importante tomar os mesmos cuidados que você vai ter na rua. Nada de ficar dando beijinhos, muitas mulheres dão beijo na boca dos filhos ou dos netos, é um hábito, o brasileiro é muito carinhoso. Mas é preciso diminuir os contatos físicos nesse período — afirma a infectologista.
Ela destaca também que, nesse momento em que as crianças não estão tendo aulas, é preciso buscar brincadeiras mais solitárias, para evitar o risco de contaminação ou transmissão da doença.
— Não adianta as crianças não irem na escola e marcar festinha no play, piscina, ou brincadeira com os amiguinhos… Nesse período, vamos ter que buscar divertimento para os filhos e netos de forma um pouco mais solitária, menos em conjunto — diz.
Para quem tem contato direto com idosos, a prevenção também deve ser extra, já que eles representam um grupo de risco.
— É importante que essa mulher, principalmente a que vai cuidar dos pais ou dos avós, tenha cuidado e preste atenção nas recomendações que o governo vem dando. Evitar aglomerações e sair de casa desnecessariamente, quando precisar sair redobrar higiene, ao chegar em casa ir direto ao banheiro lavar as mãos, não esquecer de limpar as maçanetas e tomar a vacina da gripe — enumera a pneumologista Patricia Canto.
Home office e horários alternativos
Em relação ao trabalho, Tania Vergara afirma: “Tudo que puder ser feito de casa é melhor”. Como nem sempre isso é possível, existem alternativas que podem ser pensadas para diminuir os riscos.
— As mulheres também podem ser patroas, e é preciso lembrar de seus trabalhadores, inclusive aqueles que trabalham nas casas. Eles também pegam condução, muitas vezes lotadas. Uma opção é mudar os horários para que não se desloquem no horário de rush. O mesmo vale se você é empresária, ou dona de uma fábrica que não possa parar. Você pode colocar as pessoas entrando e saindo em horários diferentes, não só para que no local de trabalho tenha menos gente mas também pensando na condução — sugere a infectologista.
Cabeleireiro e produtos de beleza
Apesar de não fazer parte da rotina de todas, as mulheres são as principais frequentadoras nos salões de beleza. As especialistas destacam que nesses locais o cuidado com a higiene deve acontecer sempre, não apenas devido a atual preocupação com o coronavírus. Além disso, caso a cliente ou profissional tenha qualquer sintoma, mesmo de resfriado, não deve ir.
— Se a mulher vai fazer as unhas, o ideal é ter o seu material, ou ter garantia de que o salão faça a higiene de acordo com as normas necessárias. Batom, rímel e lápis de olho são individuais. Qualquer material que passa nas nossas mucosas ou pode ter contato com sangue não devem ser compartilhados. É um cuidado que deve existir sempre — recomenda Tania Vergara.
— No salão, as pessoas ficam mais aglomeradas você tem um contato muito próximo com os profissionais que estão fazendo sua unha ou seu cabelo. O risco de contaminação é pela exposição — explica a médica.
A ginecologista Juliana Esteves destaca que, para as mulheres idosas, os cuidados de prevenção ao coronavírus devem ser ainda maiores, da mesma forma que para os homens nessa faixa etária.
— Hoje em dia temos muitas mulheres que estão muito bem nos seus 65 anos, muito vívidas, mas é importante lembrar que elas são idosas. Por isso, devem ter os cuidados redobrados e evitar a exposição da forma mais rígida possível — ela ressalta.
— Acho que é uma boa recomendação: se a pessoa idosa tiver alguém que possa sair para fazer as compras essenciais para ela, é o ideal. Também recomendo fortemente para os idosos a vacinação contra a gripe, a influenza, que vai começar no fim do mês. Temos visto nas últimas campanhas que muita gente acaba não se vacinando e isso é importantíssimo nesse momento — indica Patricia Canto.
Atenção ao sistema imunológico
Para manter um bom sistema imunológico nesse momento, as especialistas afirmam que não existe segredo: é preciso dormir bem, ter uma alimentação saudável, praticar exercícios e tentar se estressar o menos possível.
— O estresse diminui a imunidade de qualquer pessoa. É preciso respirar fundo, ficar calmo e tornar essa pandemia uma coisa pela qual a gente tem que passar e que tem início meio e fim — conclui Tania Vergara.
Ela também destaca que, apesar do isolamento domiciliar, é possível andar e sair ao ar livre para fazer uma caminhada, por exemplo, desde que evitando locais cheios e respeitando as limitações determinadas pelas autoridades de saúde.
— É importante fazer exercício. A academia não é o melhor lugar nesse momento, porque geralmente é fechada, tem ar-condicionado e um monte de gente. É melhor fazer ao ar livre, no seu próprio play, ou na rua, nas praças públicas… Procurar os locais mais próximos para que não precise pegar condução para chegar — ela indica.
— Temos visto muita coisa por aí: soros, aumento de ingestão de vitaminas… Mas não podemos colocar nisso a cura e a proteção. Se você se alimenta bem, você também tem as fontes de vitamina e mantém o sistema imunológico mais ativo, podendo apresentar um quadro com menos sintomas caso contraia a doença — ela afirma.
Como se prevenir?
Evitar aglomerações e sair de casa se não for necessário, diminuir o contato físico e ter atenção à higiene das mãos são medidas de prevenção que têm sido recomendadas pelo governo e órgãos de saúde. Já o uso da máscara é indicado apenas para quem apresenta algum sintoma.
— A máscara não é recomendada para a população de forma geral, porque ela dá uma falsa sensação de proteção. Ela precisaria ser trocada várias vezes ao dia e tem uma técnica adequada para tirar. Mas funciona bem para reduzir o risco de contaminação caso a pessoa que tem sintomas a utilize — explica Patricia Campo.
Sem pânico!
A pneumologista também destaca a importância de evitar o pânico nesse momento.
— Não devemos correr todo mundo para o supermercado ao mesmo tempo e estocar alimentos. Dessa forma, você fica mais tempo fora de casa e também pode prejudicar outras pessoas que não tiveram tempo naquele dia, ou mesmo um idoso que não tem alguém que possa fazer compras para ele e não vai conseguir encontrar algum item e precisar voltar ao local depois. É importante que as pessoas comprem com consciência o que realmente é necessário, sem tanto pânico — ela recomenda.
Por Raphaela Ramos