Jairo Marques escreve sobre os desafios das maês de bebês com síndrome congênita do zika na PB

15 de junho, 2016

(Folha de S.Paulo, 15/06/2016) A festa de São João em Campina Grande, na Paraíba, badalada por ser uma das maiores do mundo, vai ter um toque de tristeza neste ano. Arde no peito dos paraibanos a dor de abrigarem centenas de bebês com microcefalia, que, em vez de acompanharem o foguetório explodindo ao luar, vão lutar mais um dia por sua sobrevivência.

Pelo menos 30 jovens mães campinenses, por estes tempos, “olham pro céu” em busca não de beleza, mas de inspirações que as façam ter coragem, sabedoria e força para seguirem em frente na labuta de cuidar de suas crias, cujos problemas de saúde saltitam mais que pipoca na panela.

Como na cantiga em que Antônio vê a noiva fugindo com outro, meninas recém-casadas que, por causa da zika, geraram bebês com deficiência viram seus “bravos” maridos saindo de fininho, pegando como parceira a liberdade, em vez de ajudarem a manter acessa a fogueira de esperanças por seus filhos.

Trinta jovens mães campinenses “olham pro céu” não para ver as bandeirolas coloridas, mas para matutar de onde tirar fôlego das parcas moedas que possuem para dar tudo aquilo de que seus pequenos necessitam para virar gente: múltipla assistência precoce, medicação, médicos da “capitar”, estímulos sem parar, motivando o cérebro a buscar novos rumos que não o velho caminho da roça.

A “rede de proteção” para salvaguardar a integridade desses bebês hoje e no futuro funciona conforme todas as promessas geradas diante do problema incandescente? Vai falar com santo Antônio. Quando cai o sereno, quem acalenta o frio das vítimas são os mais chegados, igualmente vitimados.

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Imagem de divulgação do grupo de mães de Campina Grande (PB)

Em vez de bebericar o quentão e de ensaiar a quadrilha, famílias de Campina Grande –e também de outras partes nordestinas- estão retorcendo a paciência para dar conta de assumir seres extraordinariamente diferentes, que choram à exaustão e que demandam mais do que já demanda um bebê convencional, que só mama, dorme, faz cocô e ensaia sorrisos. Triste São João.

Sou desses que acham que, em algum momento, daqui a alguns pares de anos, as jovens mães de Campina Grande vão olhar para o céu, como preconiza a canção do rei do baião, Luiz Gonzaga, e pensarão “vê como ele está lindo” e conviverão com as diferenças de seus filhos com a naturalidade que se faz necessária para a construção de felicidade e de conquistas.

Por enquanto, porém, o balão da esperança sobe com muita dificuldade para essas meninas que têm dificuldade de entender até o grau de desafio que as aguarda e que aguardam seus filhos, que carregam o peso monumental de ter diferenças físicas e intelectuais marcantes.

Trinta jovens mães, com filhos microcéfalos, de Campina Grande, precisam de ajuda de todos os que se atrevem a entrar na roda, a pular a fogueira do egoísmo e dançar a cantiga da solidariedade. Ajudar pode ser mais simples que fazer bigode de caipira e mais barato que enviar um correio elegante.

Uma plataforma online de arrecadação de fundos está aberta para auxiliar a amenizar a “judiação” dos bebês e de suas mamães: www.kickante.com.br/pelosnossosfilhos é como chegar lá. Inté mais vê!

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