OMS recomenda oficialmente que mulheres em locais de surto adiem gravidez

09 de junho, 2016

(O Estado de S. Paulo, 09/06/2016) Temendo contaminação sexual, entidade amplia recomendações e pede que pessoas com sintomas de zika devem esperar pelo menos 6 meses para engravidar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que casais que vivem em locais com o surto do zika vírus adiem uma gravidez. Para os estrangeiros ou mesmo moradores locais que apresentaram algum sintoma, a sugestão publicada pela entidade é de que esperem pelo menos seis meses para iniciar uma gravidez.

Agentes de saúde combatem possíveis criadouros do mosquito 'Aedes aegypti' em João Pessoa, na Paraíba

Agentes de saúde combatem possíveis criadouros do mosquito ‘Aedes aegypti’ em João Pessoa, na Paraíba

Conforme o Estado havia publicado há dez dias, um primeiro alerta já havia sido publicado no final de maio pela entidade. Mas, desta vez, a OMS optou por fazer uma diferenciação maior entre estrangeiros que visitam locais com o surto e as mulheres vivendo em zonas com a presença do mosquito.

“Nossa sugestão é de que pessoas em locais com surto adiem ou considerem adiar uma gravidez”, disse Christian Lindmeier, porta-voz da OMS. Para a entidade, mulheres nesses países devem ter acesso a informação e medidas de prevenção, como preservativos. A recomendação deixa claro também que, por enquanto, não existe uma outra alternativa para se proteger e que, para a população em locais com a presença do mosquito, a melhor forma de evitar a má-formação é mesmo evitar uma gravidez.

Alertando para o fato de que a transmissão sexual do vírus é mais importante que se imaginava, a OMS decidiu duplicar os prazos de espera para mulheres que queiram engravidar. Pela primeira vez,  calendários são recomendados a diferentes grupos de risco e a entidade deixa claro que a proliferação do vírus em relações sexuais é “mais comum que previamente assumido”.

A orientação está sendo feita depois que novos estudos realizados pela entidade e cientistas apontaram que o vírus tem um período maior de permanência no sêmen, além do que se previa. Alguns estudos chegaram a indicar que a carga do vírus em um sêmen é 100 mil vezes maior que no sangue e ele pode permanecer ativo por 14 dias.  Num do estudos, um homem que deixou as Ilhas Cook para o Reino Unido registrou a presença do zika vírus em seu sêmen 62 dias depois do início dos sintomas.

No total, dez países já registraram essa transmissão, entre eles EUA, França, Itália e treze casos na Alemanha.

Em casos de brasileiros ou estrangeiros que visitem o Brasil e tenham sintomas como febre e conjuntivite, a sugestão é de que a espera seja de seis meses. “Isso é uma forma de garantir que o vírus deixe o corpo », apontou Lindmeier. « Decidimos rever nossas recomendações, diante das novas informações que temos sobre o vírus” disse.

Outra mudança se refere também a casais que tenham estado do Brasil, mesmo sem dar sinais de sintomas. “Essas pessoas devem esperar oito semanas ao voltar de locais afetados”, indicou. Antes, a recomendação falava em quatro semanas de espera.

A OMS também pede que homens que retornem de locais com o surto usem preservativos por dois meses, e não apenas um como se orientava antes. Caso suas parceiras estejam grávidas, a proteção deve ocorrer até o final da gestão. Outra opção é a abstinência.

O problema maior se refere aos brasileiros, principalmente em locais com o surto. Se um estrangeiro pode contar de forma mais clara os dois meses a partir do momento em que esteve em uma cidade com zika, para um morador do local afetado essa conta não tem uma data para começar.

Questionado se a nova recomendação significaria um banimento efetivo nas gravidezes, a OMS respondeu que a orientação é de que sejam “adiadas ou considerado um adiamento”. ” Sabemos que isso pode ser difícil para algumas populações”, admitiu Lindmeier.

Mesmo sem uma data estabelecida para que a gravidez possa ocorrer, a OMS estima que o adiamento ocorreria até que a população fosse naturalmente imunizada. Com o vírus circulando, a previsão é de que em alguns meses uma certa resistência seja criada na população.

A OMS também aponta para estudos que indicaram a presença do vírus na urina e saliva. Mas afirma que os resultados ainda não são conclusivos. “Mais estudos são necessários”, disse o porta-voz.

A OMS, porém, insiste que a recomendação não significa que irá mudar a forma pela qual avalia o risco dos Jogos Olímpicos no Rio. Para a entidade, cancelar o evento não terá um impacto em impedir a proliferação da doença. A cada ano, 10 milhões de pessoas entrem e saem do Brasil. Para os Jogos, serão 500 mil.

Nas últimas semanas, cientistas e esportistas tem apelado para que o evento no Rio de Janeiro seja cancelado ou adiado, proposta rejeitada pela OMS, pelo COI e pelo governo brasileiro.

Jamil Chade – O Estado de S.Paulo

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