Pesquisa qualitativa com grávidas que estão no centro da epidemia de zika mostra lacuna de informações

02 de agosto, 2016

(Agência Patrícia Galvão, 02/08/2016) Para saber o nível de conhecimento das mulheres sobre o vírus e a síndrome congênita do zika e quais são suas percepções, anseios e demandas sobre os serviços públicos, em abril foram realizados seis grupos de discussão com mulheres grávidas, das classes CD e que acompanham sua gravidez no SUS (Sistema Único de Saúde), em Recife, João Pessoa e São Paulo.

Realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Data Popular, com apoio da ONU Mulheres e da Fundação Ford, a pesquisa qualitativa revela falhas nas políticas públicas ao evidenciar um cenário de incertezas e angústias em que a perspectiva das mulheres não está no centro das respostas à epidemia que vêm sendo dadas pelo poder público, gerando uma grave lacuna de informações, acesso a testes, exames e a direitos.

Além de apontar caminhos para aprimorar as políticas públicas, a perspectiva das mulheres revela a demanda por uma cobertura jornalística mais aprofundada sobre a síndrome congênita do zika, que aproxime mais a população de gestores e pesquisadores.

Leia também: Pesquisa inédita aponta que 90% das grávidas querem testes para saber se tiveram zika e 70% demandam maior acesso a ultrassons

 

Confira seis dúvidas importantes que as mulheres entrevistadas demandam ver no foco da mídia, sobretudo dos meios aos quais elas mais recorrem na busca de informações: TV, rádio e internet.

1) Como prevenir o contágio por zika?

o   O repelente é o método mais conhecido e usado; porém, relatam que a prevenção é difícil, sobretudo no início da gravidez, quando o uso do repelente causa muito enjoo.

o   Além disso, dizem que o produto é caro e não há consenso sobre o tipo de repelente que é de fato eficiente contra o zika.

o   Mesmo as que declaram saber que o zika é sexualmente transmissível não usam preservativos como forma de prevenção.

o   E os parceiros dizem que elas devem se proteger das picadas do mosquito, mas não se preocupam em também se proteger e usar preservativos nas relações sexuais.


2) Só há risco da microcefalia quando a grávida é contaminada até o terceiro mês?

o   Grande parte das grávidas acredita que o risco de o vírus afetar o bebê existe apenas nos três primeiros meses de gestação, fase em que ele está em formação. Em função disso, concentram seus cuidados preventivos nesse período.


3) Como veem e reagem ao que a mídia mostra sobre os efeitos da síndrome congênita do zika nos bebês?

o   Para as grávidas, a microcefalia aparece na mídia de forma triste, feia e desoladora. Acham que a cobertura é mais focada no sofrimento das mães com filhos com microcefalia e na “anomalia” no bebê do que em informações sobre o que é microcefalia, como se prevenir e lidar com a infecção e a doença.

o   Por isso, o que a mídia mostra gera pena e medo.

o   Não esclarece e nem mobiliza.


4) As gestantes estão sendo bem informadas sobre a síndrome nos serviços de saúde?

o   As gestantes dizem não receber orientações ou ações específicas sobre o zika e os riscos na gravidez – no máximo são orientadas a usar repelente e, no Nordeste, a vestir roupas compridas.

o   Reclamam da demora nos exames e, principalmente, no ultrassom. Isso leva a maioria a fazer no mínimo um exame na rede privada ao longo da gestação.

o   Também reclamam do acolhimento prestado no SUS: atendimento rápido, pouca atenção às gestantes, falta de esclarecimentos sobre o resultado do ultrassom e despreocupação em informá-las, confortá-las ou tranquilizá-las.

o   Segundo as gestantes, são muitas dúvidas e poucas respostas: médicos e enfermeiros pouco sabem e pouco esclarecem sobre as formas de transmissão e, principalmente, os efeitos do zika sobre o desenvolvimento do bebê.

o   Quando dão informações, muitas vezes elas são desencontradas e contraditórias, gerando ainda mais confusão entre as grávidas.

o   Ou seja, a falta de um protocolo de atendimento no espaço médico só contribui para aumentar os medos e tornar a gestação um período de grande angústia.

o   É grande o sentimento de desamparo das gestantes em relação ao SUS, não apenas no que se refere ao fornecimento de informações e orientações, mas, no caso de necessidade, de tratamento adequado à mãe e ao bebê.

5) Qual a relação da síndrome congênita do zika com a falta de saneamento básico?

o   Chama atenção de parte das mulheres o fato de a maioria dos casos de microcefalia mostrados pela mídia ocorrer em famílias como as delas: de baixa renda, altamente dependentes de serviços públicos de saúde e que residem em locais com precário saneamento básico (mais expostos, portanto, aos focos do mosquito).

o   Apesar disso, geralmente não reconhecem o estado de desigualdade socioambiental em que vivem como “fator de risco” a ser combatido. Apenas algumas fazem essa relação e atribuem ao Estado parcela de responsabilidade pela epidemia, já que ele não provê serviços de saneamento básico às regiões mais pobres.

6) Que direitos devem ser garantidos às mães que tiverem bebês com a síndrome congênita? Como e por quem esses direitos serão garantidos? A quem recorrer se forem violados?

o   As mulheres gostariam de contar com apoio financeiro, médico e psicológico (pensão, locais de tratamento, acompanhamento psicológico à mãe etc.) para poderem se dedicar aos cuidados dos filhos e garantir seu desenvolvimento, mas acreditam que dificilmente terão esse auxílio.

Acesse as pesquisas “Mulheres Grávidas em Face da Síndrome Congênita do Zika”:
Quantitativa – Instituto Patrícia Galvão/Locomotiva
Qualitativa – Instituto Patrícia Galvão/Data Popular

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