Mesmo com queda no número de casos, vírus que causou epidemia em 2016 ainda não desapareceu totalmente das regiões onde há risco.
(Bem Estar, 29/06/2017 – acesse no site de origem)
O vírus da zika pode não parecer uma ameaça tão grande quanto no último verão, mas não se pode baixar a guarda — principalmente para quem está grávida ou tentanto ter um bebê.
Enquanto os registros do vírus que causa malformações congênitas caíram fortemente em relação ao pico da doença no ano passado em partes da América Latina e do Caribe, o zika não desapareceu totalmente da região e continua uma ameaça em potencial.
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É difícil prever qual é o risco que as pessoas enfrentam em locais com a infecção latente, ou se os casos podem voltar a aumentar novamente. Por enquanto, as mulheres grávidas ainda estão sendo aconselhadas a não viajar para países ou áreas com casos relatados de zika, porque as consequências podem ser desastrosas para o cérebro do bebê.
“Faz parte da nova realidade”, disse o doutor Martin Cetron, dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, em inglês).
Aquelas que querem engravidar, junto com seus parceiros, são aconselhadas a verificar com um médico sobre o tempo necessário antes de visitar um local com infecção ativa do zika.
Há perguntas que ainda persistem sobre o risco do vírus além da gravidez, o suficiente para pesquisadores dos Estados Unidos começarem a estudar bebês para entender se a infecção após o nascimento também pode prejudicar o cérebro.
Incerteza de uma nova temporada
No último mês, Brasil e Porto Rico, países atingidos com força no ano passado, declararam que suas epidemias acabaram. No entanto, um número menor de infecções continua ocorrendo nessas regiões, de acordo com os CDC e a Organização Pan-americana da Saúde.
“O zika ainda não foi embora”, disse a médica Anne Schuchat, dos CDC. “Não podemos nos dar ao luxo de relaxar”.
O registro de zika em mulheres grávidas nos Estados Unidos soma 1.963 casos que tiveram testes de laboratório confirmados para a infecção, desde que as autoridades começaram a contar em 2016. Outros 4.107 casos ocorreram em territórios do país.
Desde o início de junho, 271 grávidas foram adicionadas aos registros de zika, 80 delas nos Estados Unidos e o restante dos territórios, embora não seja confirmada a região da infecção.
E o restante das pessoas que não estão em gestação? Os CDC contaram 140 casos de zika em estados dos Estados Unidos, todos apresentaram os sintomas da doença. A grande maioria, no entanto, não percebe os sintomas, mas ainda são potenciais “espalhadores” do vírus, caso sejam picados por um dos mosquitos transmissores.
Não há tratamento para o zika.
Efeitos ainda não são 100% conhecidos
Os bebês nascidos de mães infectadas podem sofrer graves malformações relacionadas ao cérebro, mesmo que não ocorram os sintomas. As cabeças ficam anormalmente pequenas, o que é a chamada microcefalia, o defeito mais preocupante. As crianças também podem ter perda de visão ou audição, convulsões, problemas para engolir ou movimentar alguns dos membros. A infecção também pode levar ao aborto espontâneo ou morte do feto.
Qual é o risco? Cerca de 1 em cada 20 mulheres que contraem o zika tem bebês com malformações congênitas, de acordo com os dados coletados até agora. O risco maior ocorre no primeiro trimestre de gravidez, mas também há registro de malformações no terceiro trimestre.
Outro problema assustador: alguns bebês aparecem bem no nascimento, mas desenvolvem problemas de saúde mais tarde. E se o zika pode prejudicar o cérebro em desenvolvimento de um recém nascido? Afinal, uma forma de zika causar dano é atacando o desenvolvimento de células cerebrais que existem mesmo após o nascimento.
Para tentar descobrir isso, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, em inglês) financiam um estudo na Guatemala, onde o zika está se espalhando, e estão rastreando 500 recém-nascidos e 700 crianças de 1 a 5 anos.
“Nossa preocupação é que o cérebro em desenvolvimento e no início da vida possa ser impactado de forma significativa”, disse Flor Munoz, da Faculdade de Medicina Baylor, que está entre os líderes do estudo. “É uma questao importante abordar não apenas em crianças de áreas de epidemia, mas também para as crianças que viajam para estes locais”.